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Delito de Opinião

Assumptos do dia

Luís Naves, 12.12.18

Quando comecei a trabalhar em jornais, no final dos anos 80, as redacções estavam a ser informatizadas e nelas conviviam jornalistas diferentes, alguns que tinham aprendido na tarimba, outros que escreviam como deuses, numa mistura social com algum choque de gerações. Lembro-me com saudade de ouvir contar histórias sobre os bons velhos tempos, embora eu, com algum pedantismo juvenil (do qual não me arrependo), julgasse que era na minha época que se faziam os melhores jornais de sempre. Ainda não tinha lido os antigos e sei agora que o meu tempo foi o canto do cisne daquele artesanato. No século XXI, os jornais tornaram-se irrelevantes e estão a morrer lentamente, assassinados pela tecnologia digital, pelo agregadores de notícias, pela perda de leitores e de publicidade, pela falência do modelo económico que os sustentava, pelo facto simples de terem perdido os velhos lobos do mar, ou seja, a memória das redacções. Dentro de trinta anos, dificilmente haverá jornais em papel, à excepção de pequenos projectos seleccionados, publicações de prestígio ou revistas especializadas, e estou a ser optimista. Quando acabarem, os jornais terão durado cerca de trezentos anos, um total de dez gerações de gente que se habituou a ler as notícias numa pequena folha de papel que sujava os dedos e era difícil de dobrar, onde havia também relatos verídicos de acontecimentos distantes, fotografias cheias de grão, entrevistas com gente notável, crónicas sobre os mais diversos assuntos da atualidade. Assuntos, palavra apropriada, que se escrevia assumptos na ortografia anterior à anterior desta nossa época maravilhosa.

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