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Delito de Opinião

Assim se gere a coisa pública

Pedro Correia, 03.07.19

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Metro de Arroios, encerrado há dois anos

 

Faz agora dois anos, a 19 de Julho, que a estação de metropolitano de Arroios - numa das zonas mais movimentadas de Lisboa - fechou para obras de "remodelação e beneficiação". Um encerramento destinado, no essencial, a alargar a plataforma da estação para que pudesse receber mais carruagens.

Estas obras, especificou na altura o loquaz ministro do Ambiente, iriam durar 18 meses. Um prazo que parecia razoável, embora certamente demasiado longo para os utentes habituais daquela estação, com destaque para quem mora ou trabalha em Arroios. E, sobretudo, para os comerciantes ali estabelecidos.

Aproveitou-se a ocasião para a habitual sessão de propaganda, enfeitada com estatísticas futuras: «O alargamento do comboio deverá permitir um aumento de 37% dos lugares disponíveis por hora, 128% no corpo do dia e 49% na hora de ponta à tarde.»

 

Passaram os 18 meses, em Janeiro de 2019 - a promessa, como tantas outras, deu em nada. Nessa data, faltaria concluir 80% da obra. «Só para montar o estaleiro» a empreitada demorou «quatro ou cinco meses», como denunciou um deputado municipal comunista. Em Fevereiro foi lançado um novo concurso, face ao incumprimento do primeiro contrato, e anuncia-se agora que a estação não reabrirá antes de 2021. Com o consequente aumento da despesa para os contribuintes: curiosa noção de "serviço público". E de manifesto empobrecimento do comércio privado: até Maio de 2018, pelo menos dez estabelecimentos tinham ali encerrado as portas.

O loquaz ministro não se tem pronunciado sobre o tema. O presidente da Câmara de Lisboa limita-se a sacudir responsabilidades: «Esta é uma obra de uma empresa que é gerida pelo Estado, não pela câmara. Não posso mais do que partilhar o meu lamento quanto ao atraso.»

É o mínimo que Fernando Medina pode fazer, quando se demora quatro anos para remodelar só uma estação de metro. E já que proclama a intenção de proporcionar uma «verdadeira alternativa de mobilidade, assente na disponibilidade do transporte público» na capital, onde entram 370 mil veículos por dia. Como será isso possível, com uma oferta tão medíocre e limitada?

 

Felizmente para o Governo, passou a moda dos buzinões, das "marchas lentas" e dos cordões humanos: o ministro do Ambiente e o primeiro-ministro (que já foi presidente da Câmara de Lisboa) podem, portanto, dormir descansados. 

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