Assim medra a novilíngua
Recuperação da economia: o "novo normal"
O novo normal nos hotéis e unidades de enoturismo
A pandemia e o "novo normal" da distopia
Vivemos no reino dos eufemismos. Passamos o tempo a inventar expressões para não ferir susceptibilidades alheias. A cada passo que se dá, em cada calhau onde se tropeça, logo surge alguém aos berros, reivindicando reparação pública.
De repente, a linguagem comum encheu-se de interditos. Patrulhas ideológicas fiscalizam a todo o momento o que dizemos, condicionando a comunicação verbal, lançando anátemas sobre inúmeros vocábulos de uso corrente e assumindo-se como poder fáctico, enquanto polícia do pensamento.
Assim nasce e medra a novilíngua - cheia de contorcionismos semânticos, cada vez mais desligada da realidade. O mais recente é também o mais ridículo: "novo normal". Dois adjectivos que alguns pretendem elevar a substantivo. Para ocultar o significado, que é de teor oposto.
A moda pegou - e eis que esta aberração lexical já vai sendo papagueada de boca em boca, até por jornalistas credenciados na condução de telediários. Numa espécie de mote destes tempos de linguagem fofinha e neutra, politicamente correcta: se a realidade perturba, logo se inventa um suave antónimo para a designar.
O que em nada altera os factos, na sua evidência iniludível. Anormal. Bastam sete letras.