As sondagens eleitorais
As sondagens eleitorais valem o que valem, e de quando em vez falham rotundamente. Outras vezes... não falham rotundamente. Ontem foram apresentados os resultados de uma sondagem SIC/Expresso [ligo a notícia da Renascença mas nela há um incompetência grave, com erros nos números relativos a 2019 que são usados para comparação. Os correctos das últimas legislativas foram estes].
Ao que diz esta sondagem terá o PS 40% de intenções de voto, assim resvés a maioria absoluta no parlamento. Seguir-se-á o fraticida PSD um "poucochinho" abaixo do que conseguiu há 4 anos mas ainda assim algo acima do que Almeida Santos conseguiu in illo tempore. Depois surge a voluntariosa agremiação do prof. Ventura, a qual se aprestará a quintuplicar a percentagem das eleições transactas, decerto que devido às coisas que o seu líder vai proclamando, por mais que estas pareçam (e sejam) inanes e descabidas. Ao que também consta o sólido PCP resistirá a estes seis anos de "compromisso histórico" com a, de facto, direita, mais ou menos mantendo a votação obtida há dois anos - e isto não contando com o já tradicional viés de serem os resultados eleitorais do "Partido" melhores daqueles que as sondagens costumam prever. A seguir, ao que parece, virá - em esgarçado processo de degenerescência - o partido social-democrata do prof., comentador televisivo e conselheiro Louçã. Entretanto, consta que atrás, no terceiro pelotão, seguem os neófitos liberais, os quais se presume dobrarem a percentagem de 2019, algo desiludindo os apostadores que neles previam "the next big thing". E, para surpresa geral numa actualidade em que grassam as preocupações ecológicas, parece que algo se afundará o partido animalista. Bem lá mais para trás, em notório esforço e com o carro-vassoura mesmo nas suas traseiras, seguem os simpáticos e habituais concorrentes CDS e PPM. Esclareço ainda que reli a notícia do "Expresso" com atenção interessada, mas não encontrei referência ao "único partido de esquerda que não vem do marxismo", o celebrizado LIVRE do prof. Tavares e do causídico Sá Fernandes, uma desilusão talvez devida a ter sido desprovido do ariete Katar Moreira e do respectivo assessor transvestido.
Enfim, é apenas uma sondagem, a dois meses e meio das eleições (essas sendo a verdadeira sondagem, dizem os cautelosos, aqueles do "prognósticos só depois dos jogos"). E muitos (des)crentes nestas previsões referirão o que aconteceu nas recentes sondagens em Lisboa, com todos a achincalharem a candidatura de Moedas ("it's the economy, stupid", dirá quem percebe daquilo dos subsídios estatais e camarários à imprensa e aos colunistas opinadores políticos...), para depois ficarem de cara à banda naquele festivo domingo. Outros, mais "analíticos", denunciarão que quem realizou esta sondagem foi uma associação dos pérfidos ICS/ISCTE, ninhos de "marxismo cultural", sempre prontos a apoiarem o actual poder. Mas, por mais que "conspirações" sondageiras sejam invocadas, e por mais pontito para cima, pontito para baixo que venham a obter os partidos do 2º grupo (CHEGA, PCP, BE e, vá lá, IL), o quadro final não deverá ser muito distinto do que aqui vem escarrapachado.
Diante disto restam-me duas perguntas:
1) dado que, grosso modo, anunciei isto no meu já recuado postal "Prognósticos (antes do jogo)", não haverá alguém (empresa privada, organização não-governamental benfazeja, instituição pública, cooperativa de produtores ou de consumidores, mecenas pessoal) que me queira contratar como áugure? Anuncio disponibilidade imediata, preferencialmente para oficiar sob regime de avença mas colectada fiscalmente como "direitos de autor". Agradeço que os interessados me contactem por mensagem privada, através do meu endereço electrónico;
2) parece óbvio que o PS virá a governar sozinho. E talvez mesmo com maioria absoluta, o que será uma verdadeira serendipidade promovida pelo mau jogador de poker que é o presidente Sousa. Independentemente das simpatias que possamos ter convirá pensar no que aí vem, uma crise global, entre a ressaca pandémica, a temida (ou esperada) debacle financeira chinesa, a inflacção nos combustíveis. E, ainda por cima, tudo isso (e mais o que vier) será vivido face a um BCE que não será eterno hiperprotector. E numa União Europeia finalmente pós-Brexit (pois já pós-COVID), enfronhada na sua crise económico-demográfica estrutural, cheia de fissuras ideológicas e, talvez acima de tudo, vivendo a neblina pós-Merkel - ainda que esta estadista tão relevante para a estabilidade e continuidade da "Europa" fosse para alguns, como o político e comentador social-democrata Pacheco Pereira, entendida como uma inimiga da democracia.
Ou seja, o PS apresta-se a governar sozinho - porventura apenas precisando do voto de um qualquer deputado único animalista e da abstenção pontual de alguns sociais-democratas, sejam dos da sua direita ou dos da sua esquerda. Ou dos das Ilhas Adjacentes, como antes se chamavam. E neste contexto gravíssimo que aí vem será de perguntar se terá o PS energias para a empresa. Conseguirá apartar-se do pântano que fez medrar? Pois não há outra solução, vai ter que arrepiar caminho... E honestamente, com estes nenúfares que vem mostrando, não irá lá. Não iremos, nós portugueses. E ser-nos-á imensamente doloroso.