As receitas do Delito (14)
ASPIC DE TOMATE
Instado pela Helena Sacadura Cabral sou compelido a revelar um dos mais ciosos segredos da minha cozinha, tão refinado que até tem um nome estrangeiro.
1- Despejar duas latas grandes de tomate pelado numa tigela. Escarafunchar na massa vermelha à procura do pé para o cortar. Boa sorte e muita paciência para quem quiser expurgar as sementes.
2- Deitar lá dentro 3 dentes de alho (ou quantos desejar, conforme o gosto), meia dúzia de folhas de manjericão, um fiozinho de azeite para ligar, sal e pimenta. Por mim podem-se acrescentar uns pingos de Tabasco.
3 - Moer tudo com a varinha mágica até formar uma polpa uniforme.
4 - Retirar duas conchas da polpa para outro vasilhame e partir à tesourada lá para dentro três pacotes de folhas de gelatina. Os puristas preferirão gelatina vegetal. Aguardar 10 minutos, mais ou menos o tempo de fumar um cigarro e beber um copo de vinho branco.
5 - Retirar outras duas conchas da polpa original e deitar num tacho que vai ao lume. Quando levantar fervura:
6 - ...Despejar na vasilha em que a gelatina esteve a ser embebida. Mexer, mexer, mexer (só interromper para ir beberricando outro copo de vinho branco) até derreter totalmente a gelatina na polpa, sem grumos. Se falhar neste passo arruinou a receita.
7 - Quando atingir um líquido homogéneo e espesso misturar com o resto da polpa que ficou para trás. Mexer outra vez para incorporar bem.
8 - Deitar numa forma de pudim previamente comprada na loja do chinês. Talvez seja prudente que não seja daquelas com buraco no meio. Levar ao frigorífico.
9 - Horas depois, melhor ainda se for no dia seguinte, desenformar (passo traiçoeiro: é melhor pedir a quem tenha dedos de fada) o pudim resultante e partilhar com os amigos. Se ficou bem faz um figuraço.
10 - Acabar com o resto da garrafa de vinho branco enquanto serve o aspic às fatias. Acompanha tudo que dê vontade de comer no Verão.