As letras voltam à cidade
Depois de há uns anos ter merecido honras no Wall Street Journal, e de no ano passado ter recebido a Medalha de Mérito Cultural do Governo da RAEM, o Ricardo, exemplo de empreendedorismo fora da zona de conforto, não ficou a dormir à sombra dos louros. Ontem, em Macau, foi anunciada mais uma edição da Rota das Letras, um festival que de ano para ano se afirma e constitui um porto onde todos os anos arribam autores lusófonos e chineses, num invulgar e participado intercâmbio cultural.
Ainda não será este ano que teremos em Macau a Patrícia, a Helena, a Ana ou o António Manuel, mas este ano o evento decorrerá a partir de 19 de Março, nas instalações do antigo Tribunal Judicial de Macau, ali bem perto da estátua de Jorge Álvares, o primeiro português a chegar a estas paragens e que ainda hoje aguarda por uma homenagem das autoridades portuguesas. O local escolhido não podia ser mais apropriado, numa altura em que é nomeada uma Comissão de Estudos do Sistema Jurídico-Criminal, dirigida por um magistrado do Ministério Público, e se avolumam as preocupações de alguns com o futuro do "segundo sistema", a liberdade de criação e fruição cultural e a liberdade de expressão.
Um dos temas principais será a literatura infanto-juvenil, mas os nomes anunciados não se limitam a esse importante nicho da formação dos jovens leitores. Estarão presentes Ondjaki, Maria do Rosário Pedreira, João Tordo, David Machado, Gregório Duvivier, Joe Tang, a chinesa Wang Anyi, presidente da Associação de Escritores de Xangai e autora de “The Song of Everlasting Sorrow”, Murong Xuecun, crítico e colunista do New York Times, a romancista Yan Ge, e Francisco José Viegas. De Macau estarão presentes Cecília Jorge e o editor Beltrão Coelho.
Para além destes, já que a literatura e a poesia não se esgotam no papel, virão João Botelho, e com ele "Os Maias" e o "Filme do Desassossego", o cineasta Miguel Costa com o filme "No Divã", e Ann Hui, a vencedora do prémio Cineasta do Ano no Festival de Cinema de Busan, trará a Macau “The Golden Era”, um drama biográfico sobre Xiao Hong, uma das mais importantes escritoras chinesas do século XX. As artes plásticas fazer-se-ão representar por Ge Zhen, pintor contemporâneo da China Continental, Tyrone Ho, arquitecto e cartoonista de Hong Kong, e o ilustrador nacional João Fazenda. E, last but not the least, a música também estará presente com espectáculos na Arena do Venetian e dois concertos com o maestro António Vitorino d'Almeida. Um programa que é um verdadeiro oásis na nova meca dos casinos e onde o novo acordo ortográfico fica à porta do jornal oficial. Para que conste.