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Delito de Opinião

As canções da minha vida (1)

Pedro Correia, 22.02.17

Brel Lavalse[1].png

 

LA VALSE A MILLE TEMPS

1959

 

Escutei-a pela primeira vez aos 15 ou 16 anos, quando comprei um “33 rotações” de Jacques Brel, que logo se tornou num dos álbuns que mais rodaram no meu gira-discos portátil, fiel companheiro desses anos de adolescência. Um álbum de 1972, simplesmente intitulado Jacques Brel. Mantenho-o bem preservado e ainda a ele regresso em momentos de indizível nostalgia.

La Valse a Mille Temps era o penúltimo tema dessa colectânea de grandes êxitos de Brel (1929-78), belga que se despediu demasiado cedo da vida mas deixou um rasto inapagável na música de raiz francófona. Vendeu 25 milhões de discos sem nunca atraiçoar os seus ideais artísticos. Compôs, escreveu e interpretou canções que são pequenos tesouros da narrativa musicada, cruzando a trova medieval de cariz romântico com a balada de protesto contra o conformismo burguês que sempre combateu.

 

O tema nasceu em 1959, quando Brel era cabeça de cartaz no Bobino, uma das mais famosas salas de espectáculos de Paris. Nesse ano prodigioso da sua carreira, concebeu também o inimitável e arrepiante Ne Me Quitte Pas. As duas canções integrariam o quarto LP do belga, surgido ainda em 1959. Com a valsa a abrir o álbum (cuja capa aqui reproduzo), justamente galardoado com o Prémio da Academia do Disco Francês.

Com 3 minutos e 48 segundos de duração na gravação original (de 14 de Setembro de 1959, com orquestra conduzida pelo maestro François Rauber), La Valse a Mille Temps começa como valsa lenta e bonançosa e vai rodando num crescendo cada vez mais acelerado e jubilatório até ao limite do impronunciável, ao jeito de um carrossel descomandado, ameaçando vencer o cantor pela exaustão. Não por acaso, poucos foram os que se atreveram a emular Brel nesta que é uma das suas mais extraordinárias interpretações. Um deles foi Carlos do Carmo, que em 1980 superou com distinção o desafio no mítico palco do Olympia, também na capital francesa. Do espectáculo sairia aquele que é talvez o seu melhor disco gravado ao vivo.

 

Só há pouco tempo me apercebi: esta é uma das canções que mais vezes me acompanham. Dou por mim a trauteá-la, a assobiá-la, no seu rodopiar festivo, como quando a escutei pela primeira vez naquelas manhãs de ilusória Primavera perpétua, quando o tempo parecia ter vocação para eternizar-se ao comando da voz de Brel soando a princípio quase infantil nesse compasso ternário de caixinha de música.

«Au premier temps de la valse / Toute seule tu souris déjà / Au premier temps de la valse / Je suis seul mais je t'aperçois / Et Paris qui bat la mesure / Paris qui mesure notre émoi / Et Paris qui bat la mesure / Me murmure, murmure tout bas...»

 

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