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Delito de Opinião

As autárquicas na minha terra - III

Paulo Sousa, 29.08.21

Como aqui disse há dias, no Município de Porto de Mós um autarca afastado do poder pela lei anti-dinossauros voltou a candidatar-se. Perante um cenário destes, e sem mais detalhes, são várias as perguntas que se podem colocar, como “o que é que não teve tempo de fazer em doze anos”, assim como, “olhando para os seus 68 anos de idade e estando já reformado, se não sabe fazer mais nada na vida”.

Mas aqui devem ser adicionados mais detalhes. Um dos seus filhos, David Salgueiro, após o tirocínio na Jota local, e uma passagem pela Assembleia Municipal, sempre fez saber que tinha ambições políticas muito para além disso. Candidata-se agora a Presidente de Junta na sua freguesia, cargo modesto para quem esbanja tanta avidez por cargos políticos, mas a voz corrente nos mentideros portomosense revela um plano delineado com outra abrangência.

Em caso de vitória do seu pai, João Salgueiro, o referido candidato afastado pela lei anti-dinossauros, irá contratar o seu filho como assessor, para assim o poder apresentar no futuro como alguém com experiência e dentro dos assuntos municipais. O que entenderá como sendo um atalho encaixa bem na linha do que o PS tem feito com a CRESAP, em que o governo nomeia amigos para cargos públicos a título de excepção, para seis meses depois abrir um concurso onde o escolhido tem perante os demais candidatos a vantagem da experiência adquirida. O PS a ser PS.

Estamos assim perante a ambição de criar uma dinastia de poder. Algo como se no Game of Thrones, a House of Lannister tivesse sido escolhida por aldeões previamente ameaçados e avisados do que lhe aconteceria se não fizessem o que tinham de fazer. Esta comparação deve-se à intimidação que esta malta consegue criar. Não duvido que os 51 likes, não identificados, deste meu texto e que contrastam com a reduzida reacção que mereceu numa partilha que fiz dele no Facebook, resultem exactamente do receio de dar a cara, temendo por consequências futuras.

Independentemente do resultado eleitoral que venha a verificar-se, David Salgueiro (o filho do dinossauro), ao esconder-se atrás do pai, mostra que tem medo de perder. Mas se de facto tem ambição política, como o afirma junto dos seus amigos, deveria ter sido ele o candidato à Câmara e não à Junta. Teria sem dúvida o apoio do seu pai na campanha e mesmo que perdesse isso não seria cadastro, mas currículo. É assim que funciona a democracia. É mais novo que Jorge Vala, o actual presidente, e dessa forma marcaria posição para o futuro.

Esta super-protecção parental é um fenómeno de época. Tomei consciência disso a primeira vez quando estava a terminar o meu estágio no BNU. A passagem aos quadros do Banco resultava da avaliação da gerente da agência. Ora, um colega que estava numa situação idêntica não teve luz verde para continuar. No dia seguinte os pais dele deslocaram-se à agência para perguntar à gerente em que é que ele se tinha portado mal. Embora este meu colega tivesse uns 15 ou 20 anos a menos do que terá agora David Salgueiro, toda a agência, e éramos 14, ia morrendo de vergonha alheia.

pai e filho.png

Independentemente da opinião que se tenha dos mandatos de João Salgueiro, em que além do triste episódio que já aqui referi também “conseguiu” que 4% da população saísse do concelho, os resultados que obteve deve-os ao seu instinto político, à capacidade que teve em escolher o momento certo para dar a golpada e mudar de partido e também à facilidade que tem em garantir coisas completamente opostas de acordo com quem esteja a falar. Ao tentar levar o filho ao colo, mesmo sem dar por isso, está a menorizar a sua capacidade e isso ficar-lhe-á para sempre colado à pele.

Na psicologia este fenómeno é conhecido por pais-helicóptero e no Brasil é também descrito como os filhos parasitas. Este é mais um exemplo disso.

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