Art Basel Hong Kong 2024
Durante três dias, o Hong Kong Convention and Exhibition Centre foi invadido por mais de 75 mil pessoas que ao longo de horas, e algumas em mais do que um dia, percorreram aquela que é seguramente uma das mais importantes feiras de arte do mundo e a primeira da Ásia.
Não sendo um evento para todos, dir-se-ia, todavia, ser um acontecimento cada vez mais popular numa terra em que as mais recentes e recorrentes preocupações das suas gentes estão mais em saber até quando e em que termos será mantido o estatuto internacional de sua cidade face à novel e draconiana lei de segurança nacional. Até que ponto tudo o que é exibido, promovido e vendido é compatível com a governança patriótica e o espartilho da censura?
Não foi por isso, que dez anos volvidos, e passados que foram os dias negros da pandemia da Covid-19, que a Art Basel deixou de regressar àquela que já foi uma das mais belas, esplendorosas e apetecíveis cidades do mundo e que hoje não passa de uma sombra do que foi. Por momentos tornou-se possível voltar a viver dentro das paredes da feira de um clima de liberdade, tolerância e glamour que rareia em cada dia que passa.
As 242 galerias, de cerca de 40 países, que se predispuseram a comparecer, e onde não faltou uma pequena presença portuguesa, juntando o que de melhor se pode encontrar em Nova Iorque, Paris, Londres, Los Angeles, Berlim, Tóquio, Seul, Pequim, São Paulo, Bruxelas, Milão, Florença, Xangai, Madrid, Buenos Aires, Roma, Chicago, Munique, Genebra, Singapura, Viena, Zurique ou Dubai, entre outras cidades, com a sua indiscutível reputação no mundo da arte e a qualidade do que trouxeram, conferiram ao evento uma dimensão pré-covidiana que a muitos terá feito esquecer, por momentos, os tempos difíceis que se viveram na cidade nos últimos anos e que, em alguns aspectos, se continuam, e continuarão, a viver.
Apesar disso, foi possível ver obras que em Macau seriam certamente censuradas e escondidas dos olhos do público, ou confiscadas de alguns expositores, e que não deixariam de o ser por estarem assinadas pelos mais consagrados dos melhores.
E porque não há uma grande feira sem grandes negócios, também este ano houve obras que atingiram valores, significativos para alguns coleccionadores, astronómicos para o comum dos mortais.
Para se ter uma ideia do que foi negociado bastará referir que, por exemplo, a galeria Hauser & Wirth, no primeiro dia reservado a “VIP’s”, vendeu Untitled III (1986), de Willem de Kooning, por (valores em USD) 9 milhões, The Desire (1978), de Philip Guston por 8,5 milhões, e May the Lord be the first one in the car...and the last out, de Mark Bradford, uma obra de 2023, por 3,5 milhões. Outra galeria vendeu Constructed Female Portrait (2024), de George Condo, por 2 milhões, e Victoria Miro “despachou” 3 obras da japonesa Yayoi Kusama pela módica quantia de 11 milhões. Mas centenas, talvez mihares, terão sido transaccionadas por valores bem inferiores, mas sempre na ordem dos cinco e seis dígitos.
Dividida em seis sectores – Galerias, Insigths, Discoveries, Encounters, Kabinett e Magazines –, ocupando dois pisos, incluiu a exibição de 33 filmes de e sobre artistas e duas apresentações especiais no Teatro 2. O curador do programa dos filmes foi o produtor e artista multimedia Li Zhenhua.
Entre os principais patrocinadores da Art Basel Hong Kong 2024 surgiram nomes como UBS, Audemars Piguet, Ruinart, San Lorenzo, La Prairie, Chubb e Swire, entre outros menores como BMW, Macallan ou The Peninsula.
Para quem não é coleccionador, não tem uns milhares para gastar em arte, e se limita ao deleite de ver, aprender e interrogar-se sobre o mundo em que vivemos e o que está exposto; por vezes também sobre o que se vê circular entre espaços, a Art Basel Hong Kong 2024 valeu bem a visita.
Até pela simples razão, quanto mais não fosse, de que pode não voltar a haver mais nenhuma oportunidade para se comprar um livro de Ai Wei Wei, na banca da Taschen, sem se estar a infringir a lei.