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Aquilo de que te vais lembrar, dos teus 14 anos, vai estar rodeado de névoa.
Vais recordar-te, vagamente, do teu melhor amigo. E, vagamente também, te recordarás do nome dele. Mas não terás a certeza.
Vais lembrar-te da tua escola, das suas secretárias e das suas cadeiras. Tens a vaga ideia de serem desconfortáveis e de serem castanhas, da cor da madeira. Mas também podiam ser pretas. Ou, algumas delas, castanhas; outras, pretas.
Vais também recordar-te da cor do vestido que usaste no casamento do teu primo. E vais referir que ficou um espanto com aquela pochete emprestada pela tua mãe. Terá sido um conjunto em tons de azul, aquele que fez furor e suscitou comentários, quase todos elogiosos.
Mas, no dia em que o voltares a ver, bem acondicionado num plástico direitinho da lavandaria, vais pensar: “que estranho, não tinha a ideia do azul ser tão aberto."
Vai haver também um dia em que vais recordar-te da amizade do teu melhor amigo, aquele que, aos 14 anos, te ajudou a compreender melhor os teus pais e vais - juro - agarrar-te sempre ao amor que sentiste no casamento do teu primo, aquele onde usaste o vestido azul de tom mais aberto, e de como dançaram até ao amanhecer, de como se abraçaram, de como se beijaram e de como, em cima das mesas, foram brindando ao amor, ao amor e ao amor.
Podes não ter a certeza da cor das cadeiras da tua escola, nem, tão-pouco, se eram confortáveis mas, para sempre te vais lembrar, do professor que, no final de uma aula de fim de período, te chamou à parte, para te dizer que devias escrever mais pois, se o fizesses, muita coisa boa iria acontecer.
Há poucas coisas que têm a importância devida para serem recordadas, ano após ano. E a nossa memória, nesse sentido, dá-nos uma grande ajuda, peneirando as que interessam abraçar e connosco morrer.
Um Bom Ano para todos. Cheio de recordações fáceis do tempo fazer permanecer. São sempre as que verdadeiramente importam.
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