Há também abuso se a pessoa que recebe a proposta, não somente disser "não", mas também acrescentar "não quero discutir mais o assunto, não te quero ouvir mais, não me incomodes mais, vai-te embora", acrescentando eventualmente uns berros ou uns murros na mesa.
Agora, se a pessoa que recebe a proposta continuar apenas a dizer "não" mansamente, enquanto deixa correr o marfim, então há razões para suspeitar que esse "não" não seja sério.
Falta contudo dizer que durante o acto sexual, na dialética de Eros, o "Não" pode estar associado ao jogo sexual…..a recusa seria ditada, na maioria das vezes, pelo Super Ego, normativo e castrador, e não pela vontade do Ego conciliador, verdadeira matriz do Eu individual e pontífice entre o Id e o Super Ego.
Associado ao acto sexual existe toda uma terminologia animalesca, que se obedecida, e portanto vencido o Super Ego normativo, promete aos intervenientes uma saída do Eu consciente, através da fusão aos Elos Universais da Despersonalização. Aliás como bem sabem todos os praticantes de religiões orientais a ejaculação é metaforicamente uma saída deste mundo, daí a etimologia da palavra Orgasmo
O pior é que há coisas que podem não parecer sérias, podem até, passados poucos minutos, serem confirmadas como sendo nada sérias, mas que recuperam a sua seriedade umas horas ou dias depois das suas anteriores e pouco sérias metamorfoses semânticas sofridas entre as paredes de um quarto. Dantes, quando eu era moço, chamava-se a isso "ter a faca e o queijo na mão"; hoje, a coisa deve andar mais pela expansão "ter a faca e o queijo na mão, comer o queijo todo, enfiar com o queijeiro nos calabouços e ficar-lhe com o resto dos queijos e com a queijaria." Estamos perante uma guerra civilizacional: contra a cultura da violação, a vigorosa e virulenta reacção das lambonas que se perdem por um bom queijo. E que se dê por contente o inteligente Ronaldo por ser da Madeira e não ter nascido ali no sopé da Serra da Estrela...