Vi ontem na RTP uma entrevista com uma especialista sobre abusos sexuais (e não só). Compreensivelmente, as respostas, mesmo a perguntas simples, foram consideradas complexas e, diga-se de passagem, abordadas em conformidade - também com um discurso complexo, cerrado, mas abrilhantado com muita ênfase e convicção. No entanto, a definição de abuso, no essencial, resultou claríssima: - O abuso acontece a partir do preciso momento em que alguém diz um não explícito. Fiquei à espera de que o entrevistador pusesse a questão: - Se, por exemplo, a meio da ejaculação surgir um explícito não, quem será o abusado, o ejaculado ou o ejaculador? Mas não. Fiquei a saber que, além de claríssima, aquela definição também era indiscutida, indiscutível, definitiva. João de Brito
Quando uma pessoa faz uma proposta (de qualquer natureza) a outra e a outra diz "não", é normal a primeira pessoa tentar convencer a segunda, através de diversos argumentos, a aceitar a proposta. A segunda pessoa pode, eventualmente, mudar de opinião e passar a dizer "sim". Mas, se continuar a dizer "não", é normal que o proponente insista ainda mais um bocado. É possível que, às tantas, a pessoa que recebe a proposta mude de opinião e acabe por dizer "sim".
Portanto, um "não", por mais explícito que seja, não sgnifica nunca que mais tarde não possa vir um "sim". Quando se recebe um "não" é normal não se desistir, mas sim insistir.
Um não explícito não é razão para não se continuar a tentar. E isso não é necessariamente um abuso.
Há também abuso se a pessoa que recebe a proposta, não somente disser "não", mas também acrescentar "não quero discutir mais o assunto, não te quero ouvir mais, não me incomodes mais, vai-te embora", acrescentando eventualmente uns berros ou uns murros na mesa.
Agora, se a pessoa que recebe a proposta continuar apenas a dizer "não" mansamente, enquanto deixa correr o marfim, então há razões para suspeitar que esse "não" não seja sério.
Falta contudo dizer que durante o acto sexual, na dialética de Eros, o "Não" pode estar associado ao jogo sexual…..a recusa seria ditada, na maioria das vezes, pelo Super Ego, normativo e castrador, e não pela vontade do Ego conciliador, verdadeira matriz do Eu individual e pontífice entre o Id e o Super Ego.
Associado ao acto sexual existe toda uma terminologia animalesca, que se obedecida, e portanto vencido o Super Ego normativo, promete aos intervenientes uma saída do Eu consciente, através da fusão aos Elos Universais da Despersonalização. Aliás como bem sabem todos os praticantes de religiões orientais a ejaculação é metaforicamente uma saída deste mundo, daí a etimologia da palavra Orgasmo