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Delito de Opinião

Apocalypse now na Grécia.

Luís Menezes Leitão, 08.07.15

A princípio pensei que os sucessivos disparates que o governo grego ia fazendo resultavam pura e simplesmente de incompetência, que os gregos iriam pagar muito caro. Depois convenci-me que isto afinal era uma estratégia pensada desde o início para atirar a Grécia para fora do euro. Neste momento, a irracionalidade é de tal ordem que já nem sei o que pensar. Isto só me faz lembrar o diálogo entre o Coronel Kurt e o soldado que o persegue, no Apocalypse Now. O primeiro pergunta: "Are my methods unsound?". Ao que o outro responde: "I don´t see any method at all". E de facto não podemos encontrar qualquer método nisto, entendida a palavra no seu sentido epistemológico grego, methodos (μέθοδος), que significa literalmente "seguir um caminho", de metá (μετά), "a seguir", e hodós (οδός), "caminho". Na verdade, não se compreende minimamente qual o fim que visa o governo da Grécia e qual o caminho que se propõe seguir. O que vemos constantemente são passos erráticos que não se percebe aonde visam conduzir o povo grego.

 

Num dia o governo grego negoceia um acordo no Eurogrupo. No outro dia, logo que recebe uma proposta deste, propõe um referendo sobre a mesma, o qual é votado numa semana, e dá uma esmagadora vitória ao não. Durante a campanha, o Ministro das Finanças Varoufakis, ao mesmo tempo que chama terroristas aos seus parceiros do Eurogrupo, garante que, se o não vencer, consegue um acordo com eles em 24 horas. No dia seguinte à vitória do não, o vencedor Tsipras oferece a cabeça de Varoufakis numa bandeja ao Eurogrupo, substituindo-o pelo mais moderado Tsakalotos, em ordem a conseguir um rápido acordo com os pretensamente derrotados no referendo. 24 horas depois a mensagem é de desespero: a Grécia pede mais 7.000 milhões de euros em 48 horas, sendo pedida uma reunião de emergência do Eurogrupo. Mas o tal Tsakalotos chega a Bruxelas sem uma única proposta concreta, limitando-se a levar umas notas manuscritas em papel de hotel. E para isto obrigou 18 ministros das Finanças europeus a uma reunião urgente em Bruxelas, tendo alguns, como por exemplo o de Portugal e o da Lituânia, tido que se deslocar do outro extremo do continente para nada, e sendo por isso obrigados a marcar outra reunião. A menos que Tsakalotos signifique em grego "saca a tolos", não estou a ver como é que alguém pode esperar que lhe entreguem 7.000 milhões de euros desta maneira.

 

Há dias a saída da Grécia do euro era uma hipótese quase inverosímil. Hoje tornou-se uma probabilidade cada vez mais forte. Tsipras pode ter saído reforçado do referendo mas, como o Coronel Kurt do Apocalypse Now, pode passar a governar um país em cinzas. Porque se a Grécia sair do euro, numa bancarrota descontrolada, é esse o estado em que vai ficar.

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