António Nogueira Leite: «Adoro conduzir»
Quem fala assim... (39)
«Há um lema que me acompanha sempre: se queres que os outros não saibam o que fizeste, é melhor que não o tenhas feito»
Secretário de Estado do Tesouro no segundo Executivo de António Guterres, militante do PSD desde 2005, António Nogueira Leite foi afável nas respostas às perguntas que lhe fiz por telefone. Cor favorita? Azul. E a bebida preferida? "Sumo de laranja. Sem ironia", disse o economista, doutorado pela Universidade do Illinois (EUA) e catedrático da Universidade Nova de Lisboa.
Tem medo de quê?
Tenho medo da "asfixia democrática".
Gostaria de viver num hotel?
Não. Não faz, de todo, o meu género. Gosto de um espaço que só eu e a minha família conheçamos. Um hotel não tem a minha marca.
A sua bebida preferida?
Sumo de laranja. Sem ironia.
Tem alguma pedra no sapato?
Tinha antes de começar a perder peso. Sentia-me inferior aos magros.
Que número calça?
45.
Que livro anda a ler?
Ando a ler vários. Ando a ler Angeja e a Região do Baixo Vouga, de Ricardo Nogueira Souto. É uma monografia já com 80 anos. Leio-a por razões familiares: o autor era da minha família. E também por gosto pessoal: leio muita historiografia. Ando também a ler o último romance do Philip Roth.
Tem muitos livros à cabeceira?
Tenho. Tenho mesmo o hábito, de toda a vida, de ler vários livros ao mesmo tempo - quase sempre três ou quatro, de géneros diferentes.
A sua personagem de ficção favorita?
O Sandokan. Os livros dele já não eram lidos em Portugal na minha geração mas costumava lê-los em casa dos meus avós - era uma espécie de herói secreto. Acontecia algo semelhante com a banda desenhada, em que o meu herói era o Alix porque sempre gostei muito da história de Roma. A maioria dos meus amigos, pelo contrário, não ligava nada às aventuras do Alix.
Rir é o melhor remédio?
É um bom remédio. Às vezes respirar fundo e afastarmo-nos também é uma alternativa simpática e eficaz.
Lembra-se da última vez em que chorou?
Lembro-me. Foi numa circunstância particular.
Gosta mais de conduzir ou de ser conduzido?
Gosto mais de conduzir. Adoro conduzir.
É bom transgredir os limites?
Tento cumprir o meu código de ética rodoviária e observar a lei geral, embora já tenha sido multado por excesso de velocidade. Mas nos quatro anos em que vivi nos Estados Unidos recebi um atestado de bom comportamento na estrada, do secretário de Estado do Illinois.
Qual é o seu prato favorito?
Cabrito assado. Sou uma pessoa de gostos simples.
Qual é o pecado capital que pratica com mais frequência?
A gula. Mas agora entrei em dieta para acertar o passo com as exigências da modernidade.
A sua cor preferida?
Azul.
Costuma cantar no duche?
Deixei-me disso, mas já o fiz.
E a música da sua vida?
Ain't no Mountain Enough, de Marvin Gaye e Tammi Terrell.
Sugere alguma alteração ao hino nacional?
Retirava aquela parte de marchar contra os canhões. Parece-me pouco eficaz.
E a actual bandeira nacional parece-lhe bem assim?
Preferia a bandeira monárquica, sem a coroa. Tinha um ar mais europeu. Esta é muito subsariana.
Com que figura pública gostaria de jantar esta noite?
Não posso dizer porque a minha mulher é capaz de ler o jornal.
As aparências iludem?
A mim já iludiram.
Na política também?
Claro. Aquela figura do encantador de serpentes não é só na Índia.
O que é que um verdadeiro cavalheiro nunca faz?
Um verdadeiro cavalheiro nunca deixa de dar o lugar às senhoras.
Qual é a peça de vestuário que prefere?
Gosto muito de gravatas, o que é mais um sintoma da minha falta de modernidade.
Qual é o seu maior sonho?
O meu maior sonho é que eu esteja profundamente errado relativamente ao montante das reformas destinadas às pessoas da minha geração.
E o maior pesadelo?
É que eu esteja certo.
O que o irrita profundamente?
O farisaísmo. E as pessoas que são incapazes de discutir ideias e só gostam de discutir perfis.
Qual a melhor forma de relaxar?
Estar com a família.
O que faria se fosse milionário?
Passava a ser indiferente em relação ao meu pesadelo.
Casamentos homossexuais: de acordo?
Cada um faz o que quer. Como dizia o brasileiro, «debaixo dos panos é com cada um». À partida, não estou de acordo com o casamento homossexual: é uma instituição que foi concebida para pessoas de sexos diferentes. Mas é um tema que não me perturba.
Uma mulher bonita?
Há uma mulher de quem discordo frontalmente, que considero fraquíssima do ponto de vista político, mas que tem um encanto especial: Ségolène Royal. Dada a idade dela, certamente a minha mulher não se importa que eu diga isto.
Acredita no paraíso?
Acredito.
Tem um lema?
Há um lema que me acompanha sempre: se queres que os outros não saibam o que fizeste, é melhor que não o tenhas feito.
Entrevista publicada no Diário de Notícias (24 de Outubro de 2009)