Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Delito de Opinião

António Calvário: «Gosto de todas as cores do arco-íris»

Quem fala assim... (47)

Pedro Correia, 12.08.22

R (1).jpg

«Nunca tentei cantar no duche»

 

Um senhor muito correcto do outro lado do telefone. Treinado durante décadas a dar entrevistas, desde que foi coroado Rei da Rádio (1961), recebeu o Óscar da Imprensa (1962) e venceu o primeiro Festival RTP da Canção (1964). António Calvário, que tinha 70 anos quando o entrevistei, revelou que a sua figura fictícia de eleição é Norma Desmond, tão bem interpretada no cinema por Gloria Swanson. E, sem hipocrisia nem pedantismo, confessou não ter livros à cabeceira.

 

Tem medo de quê?

Tenho medo de um dia vir a perder a saúde. Acaba por ser uma preocupação permanente. Nada existe, para mim, tão importante como a saúde.

Gostaria de viver num hotel?

Não. É demasiado impessoal. Gosto mais de estar na minha própria casa.

A sua bebida preferida?

Água. Natural, sempre. Não gosto de bebidas geladas. Sou muito cauteloso com tudo quanto como e bebo. É uma questão de hábito.

Tem alguma pedra no sapato?

Não.

Que número calça?

42.

Que livro anda a ler?

Estou a reler o meu próprio livro, Histórias da Minha História, editado pela Guerra & Paz. Nele relato vários episódios que me ocorreram, desde os sete anos. E refiro personalidades que fui conhecendo, como a Amália e o Solnado.

Tem muitos livros à cabeceira?

Sinceramente, não. Falta-me o tempo para ler.

A sua personagem de ficção favorita?

Norma Desmond, a personagem interpretada por Gloria Swanson no filme O Crepúsculo dos Deuses. Um papel extraordinário para uma grande actriz. O filme, que revejo sempre que posso, retrata muito bem uma realidade do mundo artístico.

Rir é o melhor remédio?

É, sem dúvida, um sinal de que as pessoas estão bem e gozam de saúde física e mental. Desde que seja um riso franco e não cínico ou sarcástico.

Lembra-se da última vez em que chorou?

Comovo-me por vezes ao ler certas notícias relacionadas com a violência exercida sobre crianças ou velhos. Mas a última vez em que chorei a sério foi quando morreu a minha mãe, a quem estava muito ligado. Ainda hoje me vêm as lágrimas aos olhos sempre que penso nela.

Gosta mais de conduzir ou de ser conduzido?

De conduzir.

É bom transgredir os limites?

Não é bom, mas às vezes carrega-se um bocadinho no acelerador.

Qual é o seu prato favorito?

Adoro sardinhas assadas com uma bela salada mista.

Qual é o pecado capital que pratica com mais frequência?

Não me lembro de nenhum. Deixo isso ao critério das pessoas que melhor me conhecem. Elas saberão avaliar.

A sua cor favorita?

Gosto de todas as cores do arco-íris.

Costuma cantar no duche?

Não. Nem nunca tentei.

E a música da sua vida?

Regresso. Foi o meu primeiro êxito, em 1960.

Sugere alguma alteração ao hino nacional?

Não. Há coisas que não devem ser alteradas: o hino é uma delas. Também sou contra a mudança dos nomes das ruas e o derrube das estátuas. Não se deve construir para destruir.

Com que figura pública gostaria de jantar esta noite?

Sou um grande admirador do Rui de Carvalho. É um grande actor e um grande amigo. Gosto também muito da família dele. Seria certamente um jantar muito agradável.

As aparências iludem?

Às vezes.

Qual é a peça de vestuário que prefere?

A camisa.

O que é que um verdadeiro cavalheiro nunca faz?

Insultar uma mulher.

Qual é o seu maior sonho?

Gostaria de completar o meu currículo artístico com a participação numa telenovela. Não percebo por que motivo nunca me convidaram.

E o maior pesadelo?

Ter uma doença muito grave.

O que o irrita profundamente?

A falta de palavra.

Qual a melhor forma de relaxar?

Fazer ginástica. E aliar sempre isso a pensamentos positivos.

O que faria se fosse milionário?

Ajudaria muita gente.

Casamentos homossexuais: de acordo?

Cada um faz o que que quer. Porque não?

Uma mulher bonita?

Dizem que as minhotas, de Viana do Castelo, são as portuguesas mais bonitas. Não tenho nenhum motivo para duvidar.

Acredita no paraíso?

Não vivemos nele, de certeza. Na Terra não existe. Resta-nos a esperança de o conhecermos depois da morte.

Tem um lema?

Continuar como até aqui.

 

Entrevista publicada no Diário de Notícias (1 de Agosto de 2009)

2 comentários

Comentar post