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Delito de Opinião

Antes da fronteira

jpt, 20.04.23

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Enorme, a sinuosa fila do controlo de documentação. Estou bem, esta barba rapada, mochila nas costas, sinto-me com o vigor de um Haddock nos Andes, a pertinência de um Mortimer na Atlântida, a “resiliência” - como agora se deve dizer - de um Jonathan nos Himalaias, a rudeza de um Mike Blueberry nas Montanhas Rochosas, a destreza de Buddy em escarpas e planuras, o encanto frágil de Corto em Mu. E até mesmo dono da verve lesta e ferina de Achille Talon. Uma funcionária, uniformizada e com a estrita beleza da sua ainda juventude, avança para mim "Que idade tens?". "Para que queres saber a minha idade?", respondo-lhe na minha língua, ela insiste e eu repito-lhe a negação, num afrontado “mas porquê?”. Mas ela impõe-se, “diz-ma, vá!”. Rendo-me e digo-lha, ela nem sorri no seu ir-se embora, e naquele seu primeiro passo atiro-lhe “nunca mais virei ao teu país!”. O tipo da minha frente ri-se, percebe-me a língua e a angústia, “brasileiro?” pergunta-me em modo solidário e diz-se mexicano, ainda que pareça um baneane de I’bane. Forço-me à meia dúzia de palavras trocadas, aspirando aquele ânimo que ele me oferece. Pois desmascarado afinal Steiner que fui…

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