Andas irreconhecível, PCP
Nunca tinha visto, mas há sempre uma primeira vez para tudo. O PCP, tão cioso da independência nacional, da soberania, da insubmissão ao imperialismo americano e outros chavões que vai martelando como se os portugueses fossem pregos, surge agora com cartazes políticos escritos em "amaricano". Integrado numa coisa anglófona intitulada "The Left".
Menos mal não ser italófona: assim evita proclamar-se "Sinistra".
Imagino que se trate de publicidade financiada pelo Parlamento Europeu, onde o partido da foice e do martelo ainda mantém dois lugares. Eis a prova do algodão: "European Parliament" - rezam os tais cartazes, também no idioma do império.
Sorrio quando vejo isto. Imaginando que jamais sucederia se Álvaro Cunhal ainda andasse por cá. Logo ele, que combateu com firmeza a integração de Portugal na Comunidade Económica Europeia - actual UE. Os seus sucessores, embora mais frouxos, mantiveram no essencial esta posição: em 2012 o PCP advogou até a realização de um referendo nacional para retirar o nosso país das instituições comunitárias. E em 2020 aplaudiu o Brexit com um entusiasmo polvilhado de redundâncias: «A saída do Reino Unido da União Europeia constitui um acontecimento de grande importância para o povo do Reino Unido», sublinharam os comunistas. No seu programa eleitoral para as legislativas de Março, decalcado dos anteriores, insistem em advogar «uma saída negociada do euro» para «recuperar a soberania monetária».
Tanta conversa sobre soberania, tanto bater no peito à Tarzan sobre independência e tal, tanta rejeição dos ditames de Bruxelas - e afinal ei-los amestrados, exibindo mensagens na língua de Donald Trump, neste 2024 em que Portugal devia celebrar o quinto centenário do nascimento de Camões.
What a shame, PCP. Já não és o que eras. Andas irreconhecível.