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Delito de Opinião

Andam a brincar connosco

Pedro Correia, 20.06.21

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«Velocidade do contágio atira o País todo para o vermelho», titula hoje o Jornal de Notícias, certamente com fontes bem informadas no Governo. Especificando: «Variante indiana explica subida e faz soar alarmes sobre descontrolo da pandemia». Isto quando se acentuam notícias sobre a iminente saída de cena da ministra da Saúde, que aliás delegou sexta-feira no seu secretário de Estado Lacerda Sales a defesa das posições do Governo no debate parlamentar sobre a gestão da pandemia. Como se já estivesse a tratar da passagem do testemunho no ministério.

 

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Vale a pena recordar. Este é o mesmo Governo que há escassas semanas fazia declarações públicas de crítica às autoridades britânicas por terem retirado Portugal da lista verde de países a que os súbditos da Rainha poderiam deslocar-se sem necessidade de medidas especiais de precaução.

Este é o mesmo Governo cujo chefe máximo anunciava, a 2 de Junho: «Estamos em condições de prosseguir o processo de desconfinamento». Baixando a matriz de risco e fixando o dia 28 como última etapa.

Este é o mesmo Governo cujo ministro dos Negócios Estrangeiros, em entrevista à RTP, puxava dos galões para declarar isto: «O argumento quanto à taxa de positividade não colhe. A situação pandémica em Portugal é bastante razoável. Cada vez vejo menos lógica na decisão britânica.»

 

Devem andar a brincar connosco, numa espécie de jogo do esconde-esconde que acaba de impor uma "cerca sanitária" de sexta a segunda em toda a Área Metropolitana de Lisboa, onde reside quase um terço da população do País. Depois de todas as garantias que nos transmitiram, ponderam agora fechar todo o País novamente? E como? Sem proclamação do estado de emergência nem estrito controlo do Parlamento, o que constitui manifesta inconstitucionalidade, como já alegou o nosso Luís Menezes Leitão?

Falando no Funchal, a 6 de Junho, Costa atreveu-se a dar um puxão de orelhas ao Governo de Londres: «É importante termos estabilidade neste período turístico, porque, havendo avaliações de três em três semanas, é muito difícil para a indústria do turismo estar a adaptar-se a este elevadíssimo grau de incerteza. Hoje verdes, depois amarelos... Admito que eles [britânicos] sejam menos sensíveis aos danos que causam na nossa economia. Mas espero que ao menos sejam sensíveis aos graves prejuízos à liberdade de circulação dos seus cidadãos.»

 

Estão a brincar. Só pode ser isso.

Era como se, há 15 dias, o primeiro-ministro falasse sobre si próprio duas semanas depois.

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