Ana Catarina Mendes: «Rir é a mais improvável expressão da alma»
Quem fala assim... (46)
«Gosto mais de conduzir. Tenho medo de ser conduzida»
Ana Catarina Mendonça Mendes é uma das minhas «afilhadas de jornalismo», como costumo dizer. Porque lhe fiz a primeira entrevista para um jornal - algo que pode equiparar-se a um baptismo. Já nos conhecíamos há vários anos quando fiz esta, num tom mais ligeiro, à actual ministra dos Assuntos Parlamentares, então vice-presidente da bancada socialista. Tímida por natureza, deu respostas telegráficas, o que me forçou a ampliar o questionário. Aprecia grão com bacalhau e os romances de Vargas Llosa - autor que hoje está longe de figurar nos cânones literários socialistas.
Tem medo de quê?
De falhar.
Gostaria de viver num hotel?
Não.
Porquê?
É um ambiente muito impessoal, muito frio. Gosto de ambientes mais acolhedores.
A sua bebida preferida?
Gim tónico. Bombay.
Tem alguma pedra no sapato?
Que me lembre, não tenho nenhuma pedra no sapato. Às vezes entra-me uma pedrinha quando caminho na rua, mas sai sempre sem demora.
A propósito: que número calça?
37.
Que livro anda a ler?
Estou a acabar de ler A Casa do Silêncio, de Orhan Pamuk.
Gosta de ler obras de ficção?
Gosto, sobretudo para me distrair. Mas leio vários outros géneros. Gosto de História, gosto muito de biografias...
Alguns dos seus autores de eleição?
Entre muitos outros, Hermann Hesse e Mario Vargas Llosa.
Tem muitos livros à cabeceira?
Muitos. Vou juntando à pilha de livros cada um que vou comprando a ver se consigo arranjar tempo para os ler.
A sua personagem de ficção favorita?
Corto Maltese.
Rir é o melhor remédio?
Rir é muito bom. É sempre um excelente remédio. Gosto muito de um ditado chinês que nos ensina que «rir é a mais improvável expressão da alma».
Lembra-se da última vez em que chorou?
Lembro. Aconteceu muito recentemente. Mas não vou entrar em detalhes.
Gosta mais de conduzir ou de ser conduzida?
Gosto mais de conduzir. Tenho medo de ser conduzida.
Ir no lugar do pendura não é consigo?
Não é, de todo.
Acha que é bom transgredir os limites?
Às vezes. Mas sempre com a noção dos limites.
Qual é o seu prato favorito?
Grão com bacalhau.
Qual é o pecado capital que pratica com mais frequência?
Chocolate, sempre. Não passo um dia sem ele.
A sua cor preferida?
Preto.
Para vestir também?
Também. Ando quase sempre de preto. Mas também gosto de vermelho.
Costuma cantar no duche?
Não. Costumo escutar música. Tomo duche a ouvir a rádio.
E a música da sua vida?
Todas as dos Trovante. Todas as do José Mário Branco. Ultimamente tenho ouvido muito Keith Jarrett e Charlie Haden.
Sugere alguma alteração ao hino nacional?
Confesso que não passo muito tempo a pensar nesse assunto.
Parece-lhe bem a actual bandeira nacional?
Parece. Tem uma das minhas duas cores preferidas.
Com que figura pública gostaria de jantar esta noite?
Amin Maalouf.
As aparências iludem?
Bastante.
Na política também?
Muito.
O que é que um verdadeiro cavalheiro nunca deve fazer?
Não deve ser mal educado.
O que é que uma verdadeira senhora nunca deve fazer?
Não deve perder a postura.
Qual é a peça de vestuário que prefere?
Calças.
Em qualquer época?
Sim.
Qual é o seu maior sonho?
Dar a volta ao mundo.
De barco, de carro ou de comboio?
Um pouco de tudo.
E à boleia?
À boleia não. Já passei essa fase.
O maior pesadelo?
Ter uma doença má.
O que a irrita profundamente?
A mentira.
Qual a melhor forma de relaxar?
Passear na praia, ouvir música...
O que faria se fosse milionária?
Dava a volta ao mundo.
Casamentos gay: de acordo?
Totalmente de acordo. Mas falta ainda a possibilidade de adopção de crianças.
Um homem bonito?
Hugh Jackman.
Acredita no paraíso?
Não.
Tem um lema?
Durante muitos anos, o meu lema de vida foi carpe diem. E nos dias que correm continua a ser. Não consigo arranjar melhor.
Entrevista publicada no Diário de Notícias (13 de Novembro de 2010)