"Ameaça ao Estado de Direito com pernas"
«Uma das primeiras responsabilidades de um ministro é defender o Estado. O ministro é um servidor de topo do Estado: a sua primeira obrigação é não lesar a imagem do Estado. Segunda obrigação: ser leal com o seu primeiro-ministro. Terceira obrigação: lealdade para com os seus colegas.»
«Temos de reconhecer que as cenas que chegaram ao público ocorreram no Ministério das Infraestruturas, não noutros ministérios. São trapalhadas que têm o seu epicentro naquele ministério. O ministro tem de ter o sentido da realidade e perceber que a sua obrigação é poupar os seus colegas às consequências deste episódio político lamentável.»
«A novela do Ministério das Infraestruturas é toda ela do Governo. Quem é o guionista? O Governo. Quem é o elenco? O Governo. De quem é a produção? Governo. Efeitos especiais? Governo. É tudo do Governo. Alguém tem de ter mão no Governo. Alguém tem de ter mão, em especial, no Ministério das Infraestruturas, que está praticamente em estado de sítio.»
«Tudo é mais ou menos inverosímil. As versões variam o suficiente para resolver pontas soltas. A última foi esta das fotocópias nocturnas - uma coisa absolutamente extraordinária. Só falta dizer que as adjuntas são todas testemunhas de que ele tem um isqueiro e uma máquina fotográfica.»
«Quando se lembraram de classificar os documentos? Quando perceberam que tinham de enviá-los para os deputados. É nesse momento que é feita a classificação, aliás por sugestão do próprio Frederico Pinheiro. Agora veja-se o racional disto: os documentos foram classificados por irem parar àquele órgão irresponsável e perigoso que é a Assembleia da República, feita com todas as potências externas, incluindo Lufthansa e British Airways. "Querem ver que os documentos classificados ainda chegam às mãos dos deputados? Não! Vamos já contactar o SIS, perante este risco iminente..." História absolutamente caricata.»
«Ainda ninguém conseguiu perceber porque é que as adjuntas consideraram necessário puxar a mochila de Frederico Pinheiro, em acção directa: "Este não sai daqui com a mochila!" Sem lhe tocarem - foi uma operação feita com pinças.»
«Esta história foi protagonizada por um bando de irresponsáveis que num determinado momento entraram num processo de histeria, perderam a noção do que estavam a fazer, tomaram más decisões - e não há nada a apurar. Isto é apenas um triste espectáculo.»
«Então este "perigoso gatuno" é que decidia? Isto cabe na cabeça de alguém? Quando o adjunto que era o único que [ali] verdadeiramente conhecia esta matéria, tendo a competência de acompanhar o dossiê TAP, era a pessoa que mais sabia do assunto, era o especialista do assunto, ao fim de meses, levar o computador justifica "roubo, roubo!" - com a Polícia Judiciária; "risco de segredos nacionais" que ainda vão parar à Assembleia da República - vai o SIS. Senhoras a puxar mochilas. Edifício bloqueado. Uma chefe de gabinete que diz que o telemóvel é dela, que ela é que o paga, que tem acesso às listas das chamadas. Isto é possível? Esta chefe de gabinete é uma ameaça ao Estado de Direito com pernas!»
«O Estado de Direito não foi criado para proteger o Estado dos Fredericos Pinheiros. O Estado de Direito foi criado para proteger os Fredericos Pinheiros do Estado.»
Sérgio Sousa Pinto (deputado do PS), ontem, na CNN Portugal