Allez, allez
Faltam poucos minutos. Nas ruas, quase desertas, o silêncio incha com o calor. No mini-mercado os empregados, habitualmente palavrosos, fecham-se num mutismo amuado. É que faltam poucos minutos e ainda estão ali. O vizinho do rés-do-chão abreviou o passeio ao cachorro e recolhe-se à pressa. Nem me vê. Em volta os prédios dilatam, cheios de gente. Famílias reunidas em torno da televisão suspendem-se com o coração aos pés, respiração na mão. Ninguém me vê. Só o gato branco, que patrulha a rua em passadas furtivas, me olha expectante, a avaliar se sou um perigo.
Há cerveja gelada no frigorífico e até champagne. Enchidos, preguinhos, bifanas, coisas de picar. E raparigas de cachecol posto, apesar do calor, e miúdos prontos a alinhar com o pai e o tio e o irmão mais velho nas vocalizações apaixonadas quando a partida começar. Faltam poucos minutos e os principais spots da cidade, de todas as cidades, vilas e lugarejos, estão cheios de gente. Há milhares que nem gostam de bola, mas quem resiste a surfar esta onda que se agiganta? Bora lá!