Ali Daei preso
Há um mês aqui dei nota da minha surpresa devido a não terem os jogadores da nossa selecção de futebol expressado simbolicamente a sua solidariedade com os protestos iranianos subsequentes ao assassinato de Mahsa Amini, cometido pela polícia daquele país devido a não ter aquela cidadã os cabelos totalmente cobertos. Logo de seguida ecoei a notícia de que os jogadores de futebol iranianos estavam a ter atitudes simbólicas, solidarizando-se com a família da assassinada e com os manifestantes - entre os quais haverá já centenas de assassinados. E será de lembrar que um desses futebolistas internacionais é o nosso conhecido Taremi, avançado do Porto - tendo sido até noticiado que um jogo deste clube na Liga dos Campeões foi censurado na televisão iraniana devido a esse facto. Mas nem isso serviu para convocar o companheirismo dos seus colegas portugueses - nem dos de outros portugueses, pois as manifestações públicas face a estes acontecimentos naquele país não só tardaram como têm sido bastante modestas, se comparadas com o acontecido noutras ocasiões.
Surge hoje a notícia de que Ali Daei, o mítico antigo jogador iraniano, até há pouco o maior goleador das selecções nacionais - muito evocado ao ter sido ultrapassado pelo nosso Cristiano Ronaldo nesse topo - foi agora preso devido ao seu apoio à oposição ao actual poder iraniano e à repressão que este vem realizando diante da vaga de protestos em curso.
Estou convencido que nem isso servirá para que os jogadores do campeonato português se lembrem, a partir de amanhã, de se solidarizar com o povo iraniano e seus jogadores de futebol. Apesar da tradição de intervenção política a que aderiram há pouco tempo, prestando-se a participarem, regularmente, nessa campanha "anti-racismo" internacional, que não só mimetiza uma imagem da sociedade norte-americana como a quer fazer parecer paradigmática do estado do mundo. Mas seria importante que actuassem agora, não só pela virtude de ombrear com a população iraniana, seu anseio de liberdade e de activação dos direitos das mulheres. Pois também por ser forma de se mostrarem autónomos em relação aos núcleos identitaristas americanos, por cá divulgados e acolitados por nichos universitários e pela pequena-intelectualidade sediada na imprensa da situação. Mas duvido que o venham a fazer, jovens desportistas, algo inconscientes das coisas do mundo e embrulhados no manto demagógico do anti-americanismo pós-comunista europeu.
Mas há um ponto que é relevante recordar. Os profissionais dos clubes respondem aos associados - e, em alguns casos, aos proprietários - dos clubes, e será a estes que cumprirá aquilatar da pertinência de serem os clubes usados para agendas políticas. Mas a situação muda nas selecções de futebol. Estas dependem da FPF, instituição de utilidade pública que funciona num regime jurídico muito próprio mas sob tutela estatal. E não é aceitável que uma organização tutelada pelo Estado, que tem uma enorme visibilidade e que muito estrategiza para assumir uma dimensão de representação do país, sirva para divulgar agendas políticas externas muito cirúrgicas nos seus objectivos, neste caso o de atacar um Estado democrático aliado enquanto se silenciam as insanas medidas de um Estado não-amigo ditatorial. Ou seja, são os jogadores da bola livres de balbuciarem, ajoelhados, a propaganda de nichos identitaristas norte-americanos, da Ivy League e quejandos? São, se assim o quiserem. É o doutor Fernando Gomes, presidente da FPF, livre de usar as prerrogativas que lhe são atribuídas pelo Estado para fazer deslocar grupos de desportistas que usam a bandeira portuguesa (e isso bem reclamam e capitalizam), assim divulgando a agenda do esquerdismo comunista identitarista e do jornal da SONAE? Não. E isso deve-lhe ser cobrado, de antemão.
Enfim, é simples, se os rapazolas endinheirados se estão nas tintas para as mulheres no Irão e para os iranianos em geral, é lá com eles. Mas se assim é então também não há mais espaço para os ademanes ajoelhados contra o "racismo" nos EUA. Nem para um mariola usar a selecção "nacional" para apelar ao "Poder Negro", nestes 2020s. E quem não compreender isso não vai ao Catar. Pois chega de pantominas.