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Delito de Opinião

Trinta filmes da minha vida

Pedro Correia, 24.11.16

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A Desaparecida (John Ford, 1956)

O melhor western de todos os tempos - obra-prima absoluta. Um filme sobre um amor impossível, um filme sobre o inapelável peso da solidão.

 

A Sombra do Caçador (Charles Laughton, 1955)

Longa toada nocturna, mais poesia que prosa, cruzamento do expressionismo alemão com cinema negro, de conto de fadas com romance gótico.

 

A Troca (Clint Eastwood, 2008)

O olhar, as dúvidas, a angústia, a contenção, a febre, as palavras e o silêncio de uma mulher confrontada com o pior dos cenários: o rapto de um filho.

 

Aniki-Bóbó (Manoel de Oliveira, 1942)

Não me lembro de outro filme produzido antes deste, em Portugal ou qualquer outra paragem, que soubesse tratar o mundo infantil de forma tão sensível e tão credível.

 

Antes que o Diabo Saiba que Morreste (Sidney Lumet, 2007)

A diluição da cronologia faz aqui todo o sentido - para vincar que todos somos prisioneiros do passado e que este por sua vez condiciona as nossas acções futuras.

 

As Vinhas da Ira (John Ford, 1940)

A saga de Tom Joad ganha asas, transcende o contexto histórico em que se situa, adquire um simbolismo universal que supera qualquer rótulo.

 

Birdman (Alejandro González Iñárritu, 2014)

Fabulosa descida aos bastidores do mundo do espectáculo -- cruzando teatro com cinema, talento artístico com sucesso de bilheteira, actores de carne e osso com a sua fantasiosa projecção no ecrã.

 

Boneca de Luxo (Blake Edwards, 1961)

Onde quer que vamos, a voz de Audrey Hepburn acompanha-nos. E se ela nos disser que existem rios na lua, nem por um instante somos capazes de duvidar.

 

Casablanca (Michael Curtiz, 1942)

Se algo sobrevive ao malogrado romance entre Rick e Ilsa Lund (deslumbrante Ingrid Bergman) é precisamente a batalha decisiva em que ambos apostam, também em nome do amor – neste caso, do amor à liberdade.

 

E Tudo o Vento Levou (Victor Fleming, 1939)

Se compararmos o cinema às grandes criações literárias, a Scarlett de celulóide equivale a uma das grandes personagens romanescas de que há memória.

 

Esplendor na Relva (Elia Kazan, 1961)

Há no olhar pungente de Deannie (Natalie Wood), nessa cena crepuscular, toda uma gama de emoções que daria para encher uma biblioteca inteira.

 

Indomável (Ethan Coen e Joel Coen, 2010)

Uma película que nos transporta a uma época de pioneiros e nos devolve as linhas divisórias entre o bem e o mal. Saímos do cinema com a convicção antecipada de que um dia regressaremos a ela, tocados de nostalgia.

 

Janela Indiscreta (Alfred Hitchcock, 1954)

O prodígio de Hitchcock nesta sua obra-prima é transformar quase toda a acção física em mera acção visual.

 

Laura (Otto Preminger, 1944)

Um insólito clima de necrofilia percorre este filme – obra-prima do noir, o género cinematográfico que melhor desvenda a alma humana.

 

Lawrence da Arábia (David Lean, 1962)

Nenhum filme é confundível com este porque a personagem central aqui é o deserto e a magia que dele emana vai-nos guiando de cena em cena ao som da hipnótica partitura de Maurice Jarre.

 

Lilith (Robert Rossen, 1964)

"A felicidade torna-nos descuidados", adverte um doente, com mais sabedoria do que todos os médicos. Completa-se o ciclo: a voz da loucura pode tornar-se a voz da razão.

 

Lost in Translation (Sofia Coppola, 2003)

Alguns filmes reconciliam-nos com o cinema. Outros reconciliam-nos com a vida. Mais raros ainda são os que nos reconciliam simultaneamente com a vida e o cinema enquanto o tempo passa.

 

Mary Poppins (Robert Stevenson, 1964)

Comovo-me quando ouço Chim Chim Cheree, divirto-me com aquele delirante chá tomado com as personagens coladas ao tecto, ainda acho possível que uma nanny inglesa cruze os céus de Londres a flutuar num guarda-chuva.

 

Nebraska (Alexander Payne, 2013)

Este arrebatador road movie não seria tão deslumbrante sem a interpretação excepcional de Bruce Dern, sobrevivente -- na tela e fora dela -- de uma época que se tornou mítica.

 

Nove (Rob Marshall, 2009)

A homenagem à Sétima Arte, que Nove também é, culmina com a entrada em cena de Sophia Loren, a melhor ponte entre duas cinematografias de excepção – a italiana e a norte-americana – e várias gerações de intérpretes.

 

O Caçador (Michael Cimino, 1978)

Começa com um casamento e termina com um funeral - duas faces do mesmo espelho. Mas não nos fala de uma América crepuscular: fala-nos de uma América capaz de ressurgir com maior vigor de cada desaire da História.

 

O Desconhecido do Norte-Expresso (Alfred Hitchcock, 1951)

Pode o crime perfeito resultar de duas motivações cruzadas, como se os assassinos trocassem de identidade e mudassem de pele?

 

O Segredo dos Seus Olhos (Juan José Campanella, 2009)

Por vezes só um desencontro permite reencontrar-nos connosco próprios. E decifrar todos os enigmas, não da tela mas da vida. Vendo uma velha fotografia, desvendando o véu da esfinge que se abriga na memória de um olhar.

 

O Padrinho (Francis Ford Coppola, 1972)

Aquela que deveria ser uma rotineira e banal fita de gangsters eleva-se ao estatuto reservado às óperas de Verdi graças a um jovem cineasta.

 

Os Inadaptados (William Wyler, 1961)

Esta película onde não morre ninguém é afinal uma película sobre a morte - uma das mais pungentes de que há memória.

 

Os Verdes Anos (Paulo Rocha, 1963)

Era um cinema feito na rua, que recusava o estúdio, também por inspiração italiana - e este filme, que constitui uma declaração de amor a Lisboa, acaba por ter portanto as rugas que a própria cidade ostenta.

 

Quando a Cidade Dorme (John Huston, 1950)

A originalidade desta película, mil vez imitada, é construir-se por inteiro sob a óptica dos ladrões - nunca dos polícias ou de algum detective cínico mas respeitador da lei.

 

Taxi Driver (Martin Scorsese, 1976)

Nunca Nova Iorque pareceu tão irreal como neste filme só aparentemente realista: porque afinal a vemos sempre pelo olhar desfocado deste ex-fuzileiro de 26 anos que guia sem destino.

 

Viagem a Itália (Roberto Rossellini, 1953)

Nas ruínas de Pompeia ambos caminham sempre separados, sem o mínimo contacto físico, ao encontro dos ossos calcinados de um par surpreendido num abraço eterno, dois mil anos antes, pela lava do Vesúvio.

 

00.30, Hora Negra (Kathryn Bigelow, 2012)

Há filmes assim. Mal acabamos de os ver, sabemos logo que estamos perante uma obra a que um dia chamarão clássico.

 

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