Ainda tão cedo para dizer adeus
Carme Chacón (1971-2017)
Há menos de uma década era uma das mais promissoras políticas de Espanha. Ministra da Defesa, primeira mulher a assumir tais funções, a sua imagem a passar revista aos soldados já grávida de sete meses deu volta ao mundo.
Bonita, inteligente, talentosa, Carme Chacón quase ascendeu à liderança do PSOE no fim do mandato de Rodríguez Zapatero, quase ascendeu ao posto máximo dos socialistas catalães, a região de onde era natural, quase teve a maioria da esquerda moderada espanhola a seus pés.
Tempos irrepetíveis: do fulgor da fama à penumbra do esquecimento foi um curto passo, antes impensável. Bem demonstrativo de que como é ilusória e transitória a espuma da política.
Ex-ministra, ex-deputada, ex-personalidade promissora da política espanhola, Carme morreu hoje, na solidão do seu apartamento madrileno, com apenas 46 anos - "insuportavelmente jovem", na certeira definição do obituário do El Mundo. A sua última aparição pública ocorrera há precisamente duas semanas, presença discreta num comício de apoio à candidatura de Susana Díaz na campanha interna para a liderança do Partido Socialista. Há três candidatos em liça, ela ficou à margem. Irremediavelmente arredada dos holofotes.
Tanto prometia, tanto deixou por concretizar. Parte quando era ainda tão cedo para dizer adeus. E há neste momento espanhóis de diversos quadrantes a chorar a sua morte, atordoados com a brutal notícia. Tudo é tão fugaz e desconcertante nesta álgebra incerta a que chamamos vida.
Grávida de sete meses, passando revista às tropas enquanto ministra da Defesa (2008)