Água radioactiva e velocidade no asfalto

O ministro do Ambiente soltou esta semana um grito dolorido. É tempo, diz ele, de parar com a produção global de combustíveis fósseis que vai colocando o planeta à beira da catástrofe ecológica. «Mais do que salvar o planeta é salvar-nos a nós próprios como espécie. Nós de facto não conseguimos suportar este aumento de temperatura. A economia tem de crescer de forma completamente diferente e com investimentos que sejam focados na sustentabilidade», declarou o governante, notoriamente alarmado.
Fui conferir. Matos Fernandes ocupa há seis anos consecutivos a pasta governativa, desde 2018 crismada com o pomposo título de Ministério do Ambiente e da Transição Energética - obedecendo ao péssimo hábito, há muito vigente em Portugal, de alterar constantemente designações para disfarçar a total incapacidade de fazer reformas.
«Isto não vai lá sem o esforço de todos”, adverte Matos Fernandes, como se fosse um recém-chegado. Afinal prestes a entrar no sétimo ano de funções no Executivo socialista que tanto se orgulha de proclamações retóricas com alvos de longo prazo. Como esta: «Portugal foi o primeiro país no mundo a afirmar o compromisso da neutralidade carbónica em 2050.»
Merecia medalha de ouro se fosse modalidade olímpica.
Mas o que nos recomenda já hoje, não para 2050, Sua Excelência, auscultado pela Lusa? «Deixar de usar combustíveis fósseis, plástico de uso simples, o petróleo, reduzir muito as embalagens, beber água da torneira, utilizar os transportes públicos.»
Azar do ministro que gosta de escrever cartinhas à «querida Greta» para receber um aceno de aprovação da activista sueca. Horas depois de fazer tão sábias declarações ao país, ficávamos todos a saber, através de notícia divulgada no Jornal de Negócios, que a era do gás natural barato chega ao fim, havendo expectativa de subida dos preços na ordem dos mil por cento.
Isto não augura nada de bom. Resta-nos beber muita água da torneira e utilizar os transportes públicos, seguindo a recomendação de Matos Fernandes, que há menos de um mês viu a Comissão Europeia accionar Portugal por alegado incumprimento de regras sobre o controlo da presença de substâncias radioactivas na água potável engarrafada que podem causar sérios danos à saúde pública. O mesmo ministro que há poucas semanas foi apanhado a voar baixinho numa auto-estrada e numa estrada nacional, transgredindo largamente os limites de velocidade impostos ao cidadão comum pelo Governo a que pertence. Como se acelerar no asfalto não aumentasse as emissões poluentes que tanto o assustam.
A "querida Greta" certamente não iria gostar.

