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Delito de Opinião

Agosto

Teresa Ribeiro, 17.08.14

Acho que não cheguei a dizer-te que a D. Idalina deixou a loja, reformou-se, e que agora está lá um indiano. E que a prima da Paula também vai emigrar. Foi tão pouco tempo, ainda tanta coisa por dizer, não deu para nada.

- Os dias passam a correr, qualquer dia já estás cá outra vez.

Já sinto saudades e ainda nem partiste. Quem dera ter já acabado as minhas férias, para não ficar a ver o tempo passar devagar, devagarinho, sem ti.

- Pois é, o tempo voa.

A Versailles agora tem esplanada, se calhar não viste. E o jardim do Campo Grande ficou pronto.

- Puseste o bilhete de avião e o passaporte na bagagem de mão?

- Estão aqui.

Não é isto que eu te quero dizer. Vais-me fugir outra vez e não consigo dizer-te o que quero.

- Logo telefono, quando chegar.

"Adoro-te", era isto que eu te queria dizer, mas não posso.

- Sim, não te esqueças.

Em 365 dias tenho-te vinte. É uma tortura.

- Felizmente temos o skype.

- Pois, no tempo em que não havia nada, só o telefone e as cartas do correio, era muito pior.

Mas e o teu cheiro? Onde é que no skype posso sentir o teu cheiro?

- Viste como está lá o tempo?

- Sim, dizem que também vai estar calor.

Sou uma piegas, isto é bom para ele. Toda a gente diz. Lá ganha 3000, aqui ganhava 700. É bom, dá-lhe currículo, dá-lhe mundo. É tão bom. Devia estar feliz, devia sentir aquilo que toda a gente diz que eu devia sentir. Estar orgulhosa e pensar que isto é uma aldeia global e que num instante estamos em qualquer lado e a começar uma nova vida e a ter muitas experiências. Aplicar a teoria à prática e por uma vez ser também empreendedora, forjar um amor menos exigente, mais flexível e 100% digital, para substituir este que me deixa a morrer de cada vez que o vejo, analógico e lindo, e volto a perder entre aviões.

- Levas o anti-inflamatório?

- Sim, vai na mala de porão.

É bom!I like, like, like, like it.

- Bem, tenho de ir.

O pior nem é estares lá, mas saber que "nunca mais volto a viver aqui, mãe". Que nunca mais voltas a viver nesta merda de país.

 

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