África do Sul em chamas
A África do Sul está há vários dias em convulsão. Ocorrem ali os maiores distúrbios e os mais graves actos de violência desde o fim do regime de minoria branca: 72 mortos confirmados, mais de 1200 pessoas já detidas. A tal ponto que o Governo mobilizou as forças armadas para reforçar os contingentes policiais, impotentes perante tanta devastação.
Protesta-se contra a detenção do antigo presidente Jacob Zuma, condenado pelo Tribunal Constitucional sul-africano a 15 meses de prisão por recusa em comparecer perante a justiça que o acusava de envolvimento em actos de corrupção.
Mas há motivos muito mais profundos e graves para esta espiral de violência, já com vários episódios dramáticos. Desde logo o facto de a África do Sul ser o país com maior índice de desigualdade à escala planetária, segundo dados do Banco Mundial. Um em cada cinco dos seus habitantes, de acordo com um recente relatório da ONU, sobrevive em condições de pobreza extrema.
Há oito dias consecutivos que esta onda de pilhagens e assassínios sem precedentes desde a implantação do regime pós-apartheid varre o país aparentemente mais próspero do continente africano. O embaixador de Portugal na África do Sul já recomenda aos compatriotas que se recolham em casa. Não são poucos: cerca de 450 mil estão radicados no país.
Reparo entretanto que as televisões portuguesas só ontem despertaram para a questão com as primeiras notícias e as primeiras imagens. E penso no contraste: se tivesse ocorrido nos EUA, com apenas um morto fosse em que local fosse, o alarido que não teriam feito, dias a fio, até agora.