Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Delito de Opinião

Adeus Camões, olá "camones"

Pedro Correia, 31.05.18

20180529_151554-1.jpg

 

As farmácias devem ser um excelente negócio. Só perto da minha casa, na Avenida da Igreja, há seis. Uma delas, mais modernaça, deixou agora de chamar-se farmácia. Fez obras para «modernizar as instalações» e ressurgiu baptizada como chemist store - assim mesmo à "amaricana", como se em vez de Lisboa estivéssemos em Seattle, Portland, Omaha ou Minneapolis.

Sinal dos tempos: eis o nosso idioma em recuo acelerado nos mais diversos tabuleiros, com a anuência generalizada das entidades públicas, a bocejante indiferença dos nossos putativos "agentes culturais" e o aplauso contentinho dos basbaques que imaginam podermos atrair "resmas de turistas" cá para o torrão se substituirmos a língua materna de Vieira, Eça e Pessoa pelo esforçado vernáculo do senhor Trump.

O estúpido "acordo ortográfico" já tinha funcionado como sinal de alerta: o português necessita de cuidados intensivos. Não apenas na versão escrita, com a abertura da época de caça às supostas consoantes mudas, mas na própria oralidade, com a progressiva atonalidade de sílabas e a contínua condenação das vogais abertas à reforma antecipada. Agora somos colonizados culturalmente pelos "camones". Cada vez mais longe de Camões.

Receio que isto já não se cure com uma simples ida à farmácia.

47 comentários

Comentar post