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Delito de Opinião

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Sérgio de Almeida Correia, 23.03.16

"Há dias, o Luiz Ruffato dizia ao HM que 'o português de Portugal vai acabar por ser um dialecto do Brasileiro'...

Tenho de discordar. Em termos linguísticos não há dialectos. São línguas. Falava-se em dialecto quando o poder colonial se referia às línguas dos países africanos. Moçambique tem 11 grupos linguísticos, todos de raiz banta, Angola tem tantos outros. Falar em dialectos é uma espécie de menorização dos estatutos linguísticos. Hoje a linguística não vê a questão assim. Não se trata de dialecto absolutamente nenhum. O que vai acontecer são variantes da Língua Portuguesa, aliás já classificadas assim. A variante europeia não é única, porque naquele território tão pequeno, o léxico, alguma sintaxe e até a pronúncia sofrem tantas mutações ... vai haver um português de Moçambique, os linguistas já fazem estudos nesse sentido, em Angola idem... O que o Luiz, se calhar, queria dizer é que pela dimensão geográfica e demográfica, o Brasil é o gigante que é.

 

Neste contexto, que sentido faz um acordo ortográfico?

Não faz muito. O problema da língua não está aí mas na sintaxe. O léxico não é problema porque as línguas são organismos vivos que se inventam a si próprios, depois a literatura gera uma espécie de padrão, a gramática analisa e cria um conjunto de regras que, logo a seguir, podem ser mudadas e são. Não há um proprietário da língua e qualquer Estado que julgue poder legislar a esse nível está absolutamente equivocado."

 

Entrevista do escritor moçambicano Luís Carlos Patraquim a Manuel Nunes (Hojemacau, 23/03/2016)

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