Acelera a agonia da Grécia
As últimas semanas demonstraram que na zona euro não se negoceiam apenas doses de austeridade, mas o que parece mesmo estar em causa é ficar ou sair. A insistência em ‘outros caminhos’ ou na necessidade de ‘mudar de políticas’ é uma mera ilusão e não imagino como a esquerda portuguesa ou os comentadores habituais vão explicar a calamidade que se adivinha.
Em Portugal, muitos acreditaram erradamente que o governo grego podia impor aos credores europeus uma alteração fundamental nos tratados e no funcionamento da moeda única. Como aliás acreditaram erradamente que o cumprimento das regras impostas pelos credores levava à espiral recessiva. Durante cinco meses, o governo de esquerda liderado pelo Syriza tentou obrigar os países europeus a prolongarem as ajudas sem se comprometer com um programa de reformas e, no entanto, crivada de dívidas e sem soberania financeira, a Grécia só agravou a situação económica, invertendo o pequeno crescimento que conseguira. Agora, se quiser ficar na zona euro, terá de aceitar medidas duras que abrem caminho à negociação do terceiro resgate; e só depois se falará em alívio da dívida. O pacote é semelhante ao que Portugal aplicou há dois anos, apesar de haver comentadores que, ignorando estes factos, continuam a considerar errada a estratégia de credibilidade seguida pelo governo português, que permitiu o regresso aos mercados e ao crescimento.
Não podendo cumprir as promessas eleitorais, o primeiro-ministro grego ensaia o que parece ser uma fuga para a frente, anunciando um referendo com escassos dias para pensar. Votar nestas circunstâncias mostra que existe aqui sobretudo um problema político, pois todas as combinações partidárias anteriores falharam na Grécia. Chamam-lhe democracia madura e modelo a seguir. Este foi o outro grande erro de avaliação da esquerda portuguesa, ao contar a história como se estivéssemos perante a resistência de uma democracia que enfrenta o cruel império neo-liberal, interpretação em que os diferentes governos da zona euro não tinham legitimidade nas urnas e nunca respondiam perante os seus eleitores. Talvez a saída da Grécia da zona euro seja o plano mais lógico ou até o plano em aplicação pelas partes, mas será sempre um golpe fatal no radicalismo de esquerda a nível europeu. Quem, no seu perfeito juízo, quererá seguir por este caminho?