A ver a bola passar
Um homem não chora, mas ontem vi montes deles em lágrimas num estádio. A bola, redonda como o mundo, é o país que inventaram para se poderem permitir fazer tudo, até ter chiliques devido à emoção, coisa que noutras circunstâncias só consentem às meninas.
Apesar de haver tanta mulher a vibrar com os jogos, este espaço continua a ser, na essência, de exclusividade masculina e por isso é que paradoxalmente invade tudo, ocupando tempos de antena infinitos nas televisões, monopolizando as manchetes dos jornais, varrendo para páginas interiores temas realmente sérios.
Fosse um campeonato mundial de futebol feminino e não haveria bandeiras nas janelas, nem acessos histéricos e avulsos de patriotismo, nem "países inteiros" em depressão ou euforia por causa dos resultados da bola. É no auge destes torneios que se percebe até que ponto o mundo pula e avança ainda e só segundo as idiossincrasias deles e à sua exacta medida.