A União Europeia não se leva a sério
A União Europeia não consegue ser levada demasiado a sério pela razão simples de produzir uma anedota como esta, que pretende ser um ranking das cidades europeias no domínio da cultura e da criatividade. Lisboa dá um baile a Hamburgo, que tem uma nova casa de ópera, mas também damos banho a Barcelona e (pasme-se) a Viena e até a Roma. Claro que estas coisas são depois utilizadas pelos nossos alucinados e panglossianos como prova de que tudo corre maravilhosamente. Abrimos as notícias locais e Portugal é uma festa e somos uns pândegos; os nossos intelectuais, com ajuda preciosa dos peritos europeus, garantem que bastava elevar a autoestima dos portugueses até à região orbital do delírio e daí resultava o milagre da multiplicação dos pães. Estive três semanas sem internet, reduzido a uma rádio governamental de um país protofascista e só ouvi duas notícias sobre Portugal: uma de fogos calamitosos e outra sobre a queda de uma árvore em cima de uma multidão, acidente que se deu apesar de múltiplos avisos. De facto, não nos falta criatividade para o desastre e, em termos de cultura, parecemos consistentes, trata-se de insistir no mesmo erro de bater com a cabeça na parede até à insensibilidade; quando se bate muito, muito, muito, acaba por não doer. E, no intervalo, os óculos cor-de-rosa que nos oferece a Comissão ajudam a aliviar os sintomas.