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Delito de Opinião

A TAP é o maior partido da oposição

Pedro Correia, 03.05.23

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Como é óbvio, António Costa decidiu ontem romper a relação institucional com o Chefe do Estado só com um objectivo: forçá-lo a dissolver sem demora a Assembleia da República e a convocar eleições legislativas antecipadas.

Com a dissolução, cai a legislatura. O que implicaria o fim prematuro da comissão parlamentar de inquérito à TAP, de longe o maior pesadelo do primeiro-ministro. Ao ponto de podermos hoje dizer que o maior "partido de oposição" ao poder absoluto do PS tem a sigla TAP.

Se o inquérito parlamentar em curso chegar ao fim, os actuais sintomas de agonia do governo irão acentuar-se - como vêm alertando socialistas mais atentos, incluindo Carlos César, Alexandra Leitão, Francisco Assis e Sérgio Sousa Pinto.

 

Naturalmente, agora que a guerra entre Belém e São Bento deflagrou, Marcelo Rebelo de Sousa não fará a vontade a António Costa: vai dissolver, sim, mas apenas no momento em que entender. Que será, não por coincidência, quando der menos jeito ao primeiro-ministro

Só depois de Costa engolir até à última gota as conclusões do inquérito parlamentar à TAP - onde ainda irão desfilar Pedro Nuno Santos, Hugo Mendes e João Galamba, entre outras luminárias socialistas metidas até ao pescoço na monumental trapalhada em que a gestão desta empresa pública se tornou. 

 

Costa pagará com juros a sua bravata de ontem, comportando-se perante os portugueses como se comesse Marcelo de cebolada a pretexto de segurar in extremis um dos ministros mais desacreditados do actual elenco, algo tão desproporcionado que soa a falso desde o primeiro minuto. Entrámos numa nova etapa, nada edificante: um dos piores conflitos institucionais de que há memória entre um Governo e um Presidente - logo este, que durante cinco anos quase levou o Executivo ao colo. Episódio digno de figurar em qualquer antologia da ingratidão.

De Gaulle dizia que o poder usa-se, não se delega. Mas Costa é fraco aprendiz do velho general: a bravata irá sair-lhe cara. Mais cedo do que pensa.

5 comentários

  • Sem imagem de perfil

    balio 03.05.2023

    Este era o momento ideal para Costa. Caindo o governo, [...] ia para eleição daqui a 3 meses

    E qual a vantagem disso para Costa? Costa tem atualmente maioria absoluta, que raio pode ele querer de uma eleição daqui a 3 meses? Julga você que em tal eleição Costa obterá uma maioria ainda mais absoluta do que a atual? Muito mais provável é ele perder a maioria absoluta de que agora dispõe!

    Essa teoria, de que Costa quer forçar Marcelo a convocar novas eleições, não tem sentido nenhum. Pois que, em novas eleições Costa terá, com toda a probabilidade, um resultado menos bom do que aquele de que atualmente dispõe.
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    João Sousa 03.05.2023

    Para Costa, será indiferente ir a eleições e perder a maioria absoluta: de qualquer maneira, ele não a quer para nada.

    Costa não tem um projecto político para o país, ele apenas quer deter o poder para o gerir e às clientelas. Por isso, a maioria absoluta foi mesmo o pior que lhe podia ter acontecido. Se durante a geringonça era possível justificar a falta de um rumo com a necessidade de "negociar acordos" com os outros partidos, em maioria absoluta, dependendo apenas dele mesmo, percebeu-se como há naquela cabeça um total vazio de ideias para o futuro. A governação de Costa é feita apenas para o imediato, pois ele parece sonhar com a presidência da Comissão Europeia e a Europa gosta de importar políticos que estejam a governar.
  • Sem imagem de perfil

    balio 04.05.2023

    Costa [...] apenas quer deter o poder para o gerir e às clientelas.

    Mas para isso ter maioria absoluta é muito confortável! Até porque uma dessas clientelas são os deputados, muitos dos quais perderiam o emprego se deixasse de haver maioria absoluta!

    Entendamo-nos, um primeiro-ministro respaldado numa maioria absoluta tem mais poder e tem mais clientelas que um primeiro-ministro que não tenha maioria absoluta.

    E, de facto, se houvesse agora eleições, é até duvidoso que depois delas Costa pudesse continuar a ser primeiro-ministro. E, nesse caso, já não deteria poder nenhum!
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    Pedro Correia 04.05.2023

    Você percebe pouco disto. Limita-se a aplicar a lógica aritmética à política.
    Acontece que a política tem pouco a ver com tal lógica.
    Em abstracto, ter 120 deputados na AR é mais confortável do que ter apenas 108, como antes sucedia.
    No concreto, passa-se ao contrário: ele tinha mais estabilidade, segurança e conforto político antes do que tem agora. Há exemplos disto todos os dias.
    A adição aritmética redundou em subtracção política.
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