A Sputnik V.
No filme Contágio de Steven Soderbergh, lançado em 2011, conta-se a história de um vírus mortal, transmitido por um morcego, que rapidamente se propaga, contaminando o mundo e causando pânico global. O argumento parece uma previsão do que se viria a passar a 2020, e nele a pandemia só é controlada porque uma médica produz uma vacina e decide experimentá-la em si própria, garantindo assim a sua eficácia.
Ontem assistimos a uma história semelhante quando o Presidente russo, Vladimir Putin, anunciou possuir uma vacina e que a sua própria filha já a tinha testado com sucesso. Pode ser uma manobra de propaganda, mas é uma propaganda muito eficaz, especialmente num mundo desesperado em que qualquer esperança será acolhida de braços abertos. É manifesto que a Rússia marcou com esta antecipação muitos pontos na esfera global, sendo para ela que neste momento os países do terceiro mundo estão a olhar, em ordem a resolver rapidamente este magno problema de saúde pública.
No Ocidente e na OMS o anúncio da Rússia foi recebido com reservas, dizendo uns que seria uma mistificação, e que a vacina não seria eficaz, e outros que teria sido obtida por espionagem industrial. Não me parece, porém, que Putin arriscasse dessa forma o prestígio mundial da Rússia, parecendo-me muito provável que, mesmo não sendo a ideal, esta vacina assegure já algum nível de protecção contra o vírus, sendo que a esmagadora maioria da população seguramente pensará que mais vale alguma protecção hoje, do que uma protecção total que não se sabe quando estará disponível.
Se há coisa que o mundo deveria ter aprendido é que não se subestima a Rússia. Napoleão e Hitler desgraçaram-se quando o fizeram, acabando por perder os seus impérios. E o poder da Rússia nunca foi apenas militar, foi sempre também científico. Aquando da corrida espacial, o mundo foi assistindo perplexo ao lançamento dos sucessivos Sputniks, primeiro apenas um satélite artificial, que depois foram evoluindo, passando, desde a cadela Leika, a permitir colocar animais no espaço. Em 12 de Abril de 1961, para espanto geral, a URSS lançou o Vostok 1, que permitiu colocar o primeiro homem no espaço, Iuri Gagarine.
Ontem, 11 de Agosto de 2020, a Rússia anunciou o lançamento de outro Sputnik, a Sputnik V. Aguardemos as cenas dos próximos capítulos, mas aposto desde já que este anúncio é para levar a sério.