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Delito de Opinião

A semente totalitária

Pedro Correia, 30.03.17

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Vivemos já de algum modo num cenário pós-orwelliano. George Orwell preocupava-se com a tecnologia enquanto instrumento de um estado totalitário. A questão é que a tecnologia pode ser totalitária por si própria - e, nessa óptica, induzir derivas totalitárias no mais democrático dos sistemas.

Muitos apregoam os direitos humanos, havendo-os para todos os gostos e feitios, reais ou imaginários - e não falta até quem queira estendê-los aos animais e aos vegetais. Mas quanto mais se fala, menos se faz: alguns direitos fundamentais vão sendo comprimidos sem surpresa ou escândalo de ninguém. Refiro-me ao direito à privacidade e ao direito à reserva da vida íntima, hoje ameaçados de modo quase irreversível numa sociedade que elege o narcisismo exibicionista acima de tudo o resto.

O incentivo à exposição pública dos mais diversos pormenores da vida privada através das chamadas "redes sociais" funciona como uma droga dura. Todos os dias assistimos a novos recuos no direito à intimidade, lesado por contínuas cedências voluntárias ao domínio público.

 

Um misto de apatia, hedonismo e alheamento cívico caracteriza muito do comportamento dominante no mundo ocidental. E ajuda a explicar esta permanente sensação de crise larvar, que ultrapassa em larga escala o plano económico. É uma crise de valores, que o fundamentalismo islâmico procura colmatar à sua maneira apelando ao instinto gregário e aos códigos tribais em decomposição nas chamadas sociedades "evoluídas".

Isto tem uma capacidade de sedução que ultrapassa largamente o círculo de convertidos, seduzindo novas hordas de fanáticos em potência desprovidos de valores alternativos.

 

Quem não perceber isto nada percebe de essencial.

Como há-de o Estado - mesmo o Estado democrático - respeitar aqueles direitos se os próprios cidadãos parecem desprezá-los? A todo o momento somos filmados, fichados, gravados, inscritos, registados e vigiados nos mais diversos locais. Sem que ninguém pareça escandalizar-se.
Infelizmente estas questões só raras vezes são debatidas. Como se fossem irrelevantes. Como se a semente totalitária não estivesse já no meio de nós.

4 comentários

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    Pedro Correia 30.03.2017

    De facto, "ovelhas individualistas, voluntaristas, anarquistas" seriam o pesadelo de qualquer pastor. E exigiriam o cão de guarda particularmente vigilante.

    A nunca resolvida relação entre a liberdade e a segurança é um assunto recorrente nos meus textos. E um tema cada vez mais premente no mundo actual.

    Não acompanho, de todo, a sua tese de que não existem Estados democráticos. Então a democracia existe onde? Nas aldeias aborígenes do interior australiano? Nas tribos bosquímanas? No arquipélago dos Bijagós?
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    isa 30.03.2017

    Mesmo imaginando que estamos os dois a falar de Democracia, como cada pessoa ter um voto, não nota que já estivemos mais perto e agora, cada vez mais longe?

    Uma minoria que cria dinheiro baseado em nada, basta-lhes imprimir papel ou teclar números e que, assim, o podia enviar a rodos para os países, conhecendo bem a ganância do ser humano mas, tinha um objectivo muito específico e, aqui, repito, exactamente a mesma pergunta:
    "deliberadamente, nos algemaram a dívidas para os Parlamentos ficarem a obedecer ao exterior, onde euro-deputados não podem propor ou vetar leis, de que Democracia estará a falar se, verdadeiramente, quem manda não é eleito por cidadãos?"

    E é precisamente aqui que entra a velha e bafienta Ditadura, esquerda ou direita, as duas são exatamente o mesmo, existiram separadamente dentro dos próprios países mas, desta vez, querem ir mais longe, uma minoria, algures, quer pensar e decidir por si, por mim, por nós todos.
    Quem for este tipo de globalista está, precisamente, a apoiar esta situação.
    Mesmo escolhendo alguém que possa gerir assuntos comuns, localmente, ou seja uma população que, está por perto, nem esta deverá dar Poder ilimitado a ninguém porque, só não há corrupção onde não há Poder total nas decisões e, pior do que tudo o que a Humanidade já viveu e sofreu, é passarmos para o nível de não retorno, nunca mais ter poder nenhum, sobre gente que passa a controlar-nos de longe.

    "Então a democracia existe onde?"
    Se calhar, nunca existiu porque, como uma vez lhe disse, o que nasce torto nunca se endireita mas, nasceu torto porque convinha a "alguém". Primeiro, foram interesses caseiros agora são interesses a nível global mas nunca das populações.

    Se chegamos à conclusão que algo está mal (alguns fingem não ser possível melhor do que isto) aqueles que pensam que há maneiras de corrigir e até acreditam ser possível ninguém mandar em ninguém e, facilmente, até se consegue que a função dos Governos nunca passem por cima do Estado (que somos todos nós), pode crer que sou toda ouvidos e quanto mais sei mais apelativo se torna.
    Envio-o directamente para os princípios e pilares da verdadeira Liberdade, se quiser saber mais, por lá, há muito que ler, para pensar e meditar.
    O que as pessoas precisam saber é que há várias saídas do pântano, naturalmente, não convém a uma minoria que elas saibam disso, para se acomodarem à ideia que para além disto não existem mais alternativas e eu, para não confundir ninguém, hoje, deixo apenas uma.

    https://freedomforceinternational.org/creed-of-freedom/

    O mais interessante é que seguindo estes princípios e, ao alargá-los conforme os povos as adoptassem, acabaríamos por viver sem serem precisas fronteiras mas, sem manipuladores, fabricantes de dinheiro, corruptos e paus mandados porque, sem Poder, nunca teriam hipótese de criar pantanais. Neste momento, as fronteiras são inevitáveis porque há gente com Demasiado Poder que quer subjugar ou tirar, o Poder de todos os outros... para sempre.
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    Pedro Correia 30.03.2017

    Globalista? O que é um globalista?
    Lamento, mas sou pouco entendido em novilíngua.
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