A salsicha ética de Passos Coelho
A investigação do Público torna o assunto ainda mais premente. E as questões são muito simples. Recebeu Passos Coelho, ou não, contrapartidas económicas pelos serviços prestados à Tecnoforma? Em caso afirmativo, declarou, ou não, tais importâncias em sede de imposto sobre o rendimento? E, ainda em caso afirmativo, omitiu ou não tais rendimentos para obter algum tipo de benefício cuja atribuição estivesse dependente do exercício de funções de deputado em regime de exclusividade? Independentemente da aplicabilidade ou não do regime de prescrição, dos registos mais ou menos fiáveis do Parlamento ou de quaisquer outras questões administrativas ou burocráticas, há uma pessoa que sabe, tem de saber, a verdade dos factos. Essa pessoa é Passos Coelho. O primeiro-ministro de Portugal, o mesmo que pediu sacrifícios sem precedentes aos portugueses, que usou e abusou da imagem da frugalidade, que prometeu cortar gorduras e resquícios, que introduziu na discussão política um discurso baseado na ética e numa suposta superioridade moral em ruptura com o passado recente, não pode ficar calado sobre este assunto. Não pode escudar-se em dificuldades de memória, nem remeter esclarecimentos para terceiros. A situação do país é demasiado grave, a vida dos portugueses está demasiado difícil, foram já quebradas demasiadas promessas eleitorais, para que seja possível manter em funções um primeiro-ministro (ainda mais) ferido na sua credibilidade. Passos Coelho nunca poupou nas palavras. Dos rótulos de piegas aos conselhos sobre emigração, nada ficou por dizer. Pois bem. Agora é o momento de falar claro. Recebeu ou não recebeu? Declarou ou não declarou? Omitiu ou não omitiu em benefício próprio? Em resumo, abusou ou não abusou do sistema? É só isto que Passos Coelho tem de dizer. É a tudo isto que Passos Coelho tem urgentemente de responder.