A reestruturação da dívida.

Antes desta polémica sobre a reestruturação da dívida já tinha aqui escrito que se alguém acreditasse que era realizável a proposta de Cavaco para reduzir a dívida para 60% do PIB até 2035 bem podia acreditar no Pai Natal. Não admira, por isso, que logo a seguir ao conto de fadas por ele redigido, tenha de imediato surgido um manifesto de notáveis a propor a reestruturação da dívida. O que espanta na lista de nomes é lá se encontrarem pessoas muito próximas de Cavaco, o que mostra que nem no seu círculo restrito se encontra alguém disposto a acreditar nessas contas. Na verdade, já alguém me tinha dito textualmente o seguinte: "É um erro pensar que Portugal pode alguma vez pagar esta dívida. Nós não vamos pagar coisíssima nenhuma. Por isso a estratégia é mesmo a de ir sucessivamente apertando o cinto às pessoas, para no fim dizer aos credores que lamentamos, mas não temos nada mais que os ossos para lhes entregar". No fundo, é o mesmo que está a suceder na Grécia só que forma mais lenta.
Perante esta óbvia estratégia, não admira que Passos Coelho tenha ficado furioso com o manifesto, acusando os notáveis de "irrealismo" e de "porem em causa o financiamento do país". Se a tão apreciada queda dos juros vai abaixo com qualquer manifesto de notáveis, é evidente que nada disto é sustentável, como a breve trecho se verá. O Governo bem pode anunciar aos quatro ventos uma saída limpa. Quem percebe do assunto já se apercebeu do que se passa, como se pode ver aqui e aqui. Cedo ou tarde, o que Portugal vai ter será mesmo uma saída muito suja.