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Delito de Opinião

A rebelião populista

Luís Naves, 06.01.15

O eleitorado europeu está farto de medidas que não compreende, de liberalizações que prejudicam os trabalhadores, de cortes nos serviços públicos, de desemprego e estagnação. Quem tinha vidas previsíveis observa agora o horizonte da incerteza. A grande crise de 2008-2014 aumentou a angústia na opinião pública, criando um estado de pessimismo e de insegurança que os meios de comunicação exploram com misérias sociais que, existindo antes da crise, nunca antes tinham merecido tanto relevo. As percepções de corrupção, de criminalidade ou de pobreza são muito maiores do que a realidade da corrupção, da criminalidade ou da pobreza. O desemprego e o declínio do Estado criaram um sentimento de impotência.

A frustração, muito visível em países resgatados, não tem saídas fáceis: o Syriza, na Grécia, está a duas semanas de vencer as eleições e pretende renegociar a dívida e aumentar a despesa pública, com dinheiro que o país não possui: nos últimos anos, entre ajuda externa e perdão de créditos, a Grécia recebeu 380 mil milhões de euros, sempre a agravar a situação, devido à relutância em cumprir as condições do ajustamento. Agora, apostando na pura chantagem aos parceiros europeus, os populistas de esquerda acreditam poder ressuscitar uma economia de rastos deitando dinheiro dos outros para a fogueira, mas correm sério risco da torneira ser fechada de vez. É uma ilusão pensar que a Europa pagará as contas indefinidamente ou que as dívidas podem ser perdoadas sem a perda definitiva da credibilidade externa. Aliás, as contas não batem certo: sem financiamento, a Grécia terá de sair do euro, como indicam as suas taxas de juro.

Na Alemanha, entretanto, fervilha um movimento espontâneo anti-imigração, o Pegida, que está a assustar a classe política alemã. Embora sejam pessoas comuns, os manifestantes pacíficos são apresentados como xenófobos e racistas, o que apenas aumenta a irritação com uma democracia que, à partida, pretende ignorar a sua voz. Os partidos tradicionais têm dificuldade em lidar com formas de protesto que surgem fora do respectivo controlo, como aliás acontece na França, Espanha, Itália ou Reino Unido. Os populistas de esquerda e da direita proliferam no terreno fértil do cansaço. A ansiedade torna difícil manter as reformas económicas de inspiração liberal, cujo fracasso político é cada vez mais evidente. Assim, 2015 será porventura o ano da rebelião populista.

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