«A realidade vence sempre»
Excelente entrevista de Sérgio Sousa Pinto
A entrevista já foi dada à estampa há uns dias, no Público, mas venho muito a tempo de chamar a atenção para ela. Uma longa entrevista a Sérgio Sousa Pinto - deputado, presidente da comissão parlamentar dos Negócios Estrangeiros, membro da Comissão Nacional do PS e antigo líder da Juventude Socialista - conduzida por Maria João Avillez.
Vale a pena ler com atenção.
Destaco três excertos, com a devida vénia:
«Ou mudamos ou acabaremos numa Suécia fiscal implantada numa Albânia económica. A classe média já exporta os filhos licenciados. Um dia esses filhos enviarão remessas para financiar a velhice dos pais. O colapso da classe média significará a inviabilidade do País e do nosso regime democrático. Chega de propaganda, chega de atirar palavras contra a realidade. A realidade vence sempre.»
«Esta subversão das coisas prende-se também com o modo como se geram hoje os partidos. Há uma preferência pela subordinação e há uma cultura intimidatória: tudo pelo chefe, nada contra o chefe. É por isso que vamos aos congressos partidários e aquilo é um enfado insuportável... Como em nome da democracia se inventou a eleição directa dos líderes, o resto dos trabalhos é um cerimonial sem sombra de interesse. Bem sabemos que as mudanças para pior são sempre ditadas pelas melhores razões: mais democracia, mais transparência, mais tudo, enquanto construímos uma gaiola de bondades que vai arruinar o regime.»
«Não é possível funcionar assim: tanto poder ao líder, tanta insignificância aos indivíduos. O PS e o PSD serão em breve incapazes de gerar personalidades, transformados como estão em máquinas trituradoras. Não geram personalidades e a democracia é um regime de personalidades, é um regime de vozes. Hoje só há coros.»