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Delito de Opinião

A propósito do treinador português em Moçambique

jpt, 22.07.22

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O caso do treinador português Alberto Lário é interessante. Tendo sido detido por não estar correctamente documentado - e assim ilegal no país - foi libertado e, leio agora, não será deportado, o que muito saúdo.
 
Desconheço o treinador, nunca ouvira falar do seu trabalho, que tem sido muito elogiado, e desconheço completamente o que causou esta desagradável situação administrativa. Mas, assim à distância, retiro três pontos de tudo o que tenho lido nos últimos dias:
 
1. Lário nasceu em Moçambique, saiu em criança aquando da independência. Regressou à sua terra natal e, de acordo com a lei nacional, solicitou a nacionalidade. Está há seis anos à espera de uma decisão. Esta imensa delonga é uma situação... típica, como é consabido.
 
2. Li vários, e outros haverá, testemunhos e declarações de moçambicanos reclamando contra esta situação, afirmando a injustiça que Lário sofre(u). E todos sublinhavam o excelente trabalho que o treinador vem fazendo, em prol do atletismo nacional. É normal essa ênfase quando por exercício de cidadania se toma a defesa de alguém. Mas será conveniente recordar (tanto para Moçambique como para Portugal) que os direitos individuais não dependem da excelência do indivíduo. Ou seja, os atletas treinados por Lário poderiam não ter tantas capacidades, Lário poderia ter métodos de trabalho não tão competentes, ou apenas algum azar poderia ter obstado a que se obtivessem tão bons resultados. E nada disso reduziria os direitos do cidadão Lário. E julgo que esta, até antipática, nota pode servir para reflectir não sobre este caso mas sobre a tipicidade que o abrange.
 
3. Um terceiro ponto que é totalmente excêntrico a esta situação. Deixo aqui ligação à notícia, já velha de dois dias, emanada pela agência LUSA, que foi publicada no "Público". Este jornal tem sido, desde há vários anos, o órgão de comunicação social mais demagógico relativamente às relações entre a sociedade portuguesa e as sociedades africanas. Agora publicou esta notícia, no registo neutral da mera "take" recebida. E contrariamente a tantas outras situações com questões (mesmo que levemente) aparentadas, não teve disponibilidade nem interesse para desenvolver o caso ou para dar palco sobre o assunto ao seu habitual núcleo de colunistas antropólogos, estudiososculturais, historiadores, sociólogos e afins, sempre lestos na gritaria "decolonial", ou aos ali recorrentes propagandistas das ong's dedicadas à "justiça social" internacional. Se fosse preciso algum exemplo para sublinhar a profunda desonestidade intelectual que grassa naquele jornal do grupo SONAE, está bem aqui.
 
Enfim, votos de sucessos desportivos para o atletismo moçambicano. E - como sportinguista que bem se lembra dos destratos sofridos pelo meu saudoso Estádio José de Alvalade aos pés das assistências de concertos rock - os meus votos pela preservação das instalações desportivas no Parque dos Continuadores, questão que terá originado esta detenção do treinador.

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