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Delito de Opinião

"A presto", Monica

Pedro Correia, 05.02.22

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Há mulheres fadadas para vogar na eternidade. Dotadas de uma sensualidade sem prazo, com uma aura de mistério a velar-lhes o rosto. Parecem nunca envelhecer: são abençoadas pelo milagre da suspensão do tempo. É assim que vejo e sinto e pressinto Monica Vitti: deusa imortal do celulóide, materializada em cada aparição numa galeria de películas que soavam estranhas ao estrear-se, talvez por prenunciarem manhãs futuras. Obras-primas como A Noite (com Marcello Mastroianni) ou O Eclipse (ao lado de Alain Delon), ambas realizadas por Michelangelo Antonioni, honrando o histórico homónimo florentino em plena comunhão com a arte visual, aqui posta em movimento.

Dizem-me que ela se despediu de nós agora, aos 90 anos, após duas décadas na obscuridade, abandonando em definitivo o precário palco da vida. Custa-me acreditar na notícia. Ainda há dias a revi emoldurada em tela, fascinante como sempre a conheci - o olhar fugidio, os lábios entreabertos, aquele enigmático semblante em que se espelhavam tantas perplexidades da aventura humana.

De outras me despedi. A ela só consigo sussurrar um a presto comovido e deslumbrado.

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