Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Delito de Opinião

A polícia e a imprensa

jpt, 17.08.22

faca.jpg

O filme está aqui: o Jornal de Notícias noticia que dois polícias agrediram um homem com um cassetete e que as imagens divulgadas geraram uma onda de indignação. O Expresso é ainda mais enfático, publica a imagem (um fotograma do mesmo filme) acompanhado de uma legenda denunciante,

numa óbvia condenação do acontecido ao "cidadão" (como faz questão de frisar) que estaria "aparentemente desarmado". E o normalmente enfático Correio da Manhã noticia que o homem (o tal "cidadão") ameaçara com "ferros" os polícias depois de o fazer aos transeuntes. E é este "ameaçar com ferros" que é o mais significante de todo este fluxo noticioso sobre a matéria...

Eu, com alguma desatenção, vira o breve filme numa qualquer estação televisiva, que ia acompanhado de uma locução cuja forma não recordo mas que não era simpática aos "agentes da autoridade". Impressionei-me com aquilo, num "lá estão estes gajos outra vez..." (os polícias, claro), aquela meia dúzia de bastonadas num tipo já relativamente imobilizado, mesmo que ainda algo estrebuchando, e - o que mais me impressionou, ainda que tal não seja ilegal - a acção de imobilização através do joelho no pescoço, que ficou mundialmente celebrizada há dois anos quando um polícia americano assim esganou um cidadão, dando azo a grandes manifestações.

Mas nos dias seguintes, e enquanto continuam as denúncias públicas do exagero policial e se anuncia um inquérito a estes dois agentes - os quais muito provavelmente serão punidos, até porque a opinião pública isso parece desejar - percebo outra coisa: os tais meros "ferros" não são ferros... O homem estava na tarde das estreitas vielas do Bairro Alto a ameaçar pessoas. E veja-se a fotografia (fotograma do filme de telemóvel): fazia-o brandindo arma letal - não é exactamente nem sabre, nem espada, nem uma catana, mas a esta se poderá assemelhar, ainda que eu prefira chamar-lhe cimitarra. E o outro "ferro" é uma placa metálica que deverá ter sido usada (imaginada) como um escudo. E diante de um homem assim armado, decerto que exaltado (e muito provavelmente desequilibrado), dois jovens polícias arriscam-se - por dever de ofício - à tarefa de o imobilizar num corpo-a-corpo, e acompanham isso com meia dúzia de bastonadas em zonas do corpo nunca letais, para o aquietar em definitivo. 

Face a isto, filmado ainda para mais, a imprensa chama "ferro" à cimitarra, "cidadão" ao agressor ( - num mundo em que se um tipo chama "gordo" ou "maricas" a outro isso torna-o um agressor, como se definirá um tipo desabrido a invectivar os vizinhos no meio da rua, armado daquela maneira, que não seja como "agressor"? E não "agredido"!) E considera, a imprensa, "agressão" a acção policial. O poder investiga (e tem de o fazer) os dois agentes. A opinião pública resmunga contra a  polícia. 

Há aqui qualquer coisa errada. E não é só o ter sido o homem imediatamente solto (até à sua próxima iniciativa, temo). 

25 comentários

Comentar post