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Delito de Opinião

A pieguice

Helena Sacadura Cabral, 18.04.14


Não sou piegas. Mas não me importaria nada de o ser, se isso fosse a exteriorização de algo autêntico na minha natureza. Porque é que ser piegas será pior do que não ser? 

No Grande Dicionário da Língua Portuguesa dá-se ao termo a seguinte definição: "pessoa considerada excessivamente sensível ou sentimental; pessoa que é considerada medrosa e assustadiça".

Há ideias feitas sobre a forma como nos devemos comportar e quem saia fora delas é sempre qualificado com um qualquer epíteto. Como este a que o próprio dicionário atribui sentido pejorativo. 

E agora pergunto eu, quem é que tem autoridade para definir o excesso de sentimento ou de medo? Onde está o gráfico comportamental padrão que permite definir a "normalidade" nestas matérias?

Vem este intróito a propósito de uma carta que, há quase década e meia, circula na internet, como sendo de Gabriel García Marquéz, e que constituí uma espécie de despedida da vida de um homem em estado terminal. O texto é muito bem escrito, mas foi considerado talvez demasiado "piegas" para ser do autor do "Cem anos de solidão" que, aliás, desmentiu a sua autoria.

Aqui está o exemplo do que acabo de referir. Não estava em causa a qualidade literária da carta que até se podia confundir com a de Garcia Marquez. O que estava em causa era o "grau" de pieguice que se tolerava ao escritor. Por quem, gostaria eu de saber. De certo, por especialistas - nada piegas - da "natureza humana"...

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