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Delito de Opinião

A Perseguição aos Comunistas

jpt, 08.08.22

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Ontem aqui publiquei este texto a propósito da crítica de José Milhazes aos músicos que actuarão na próxima Festa do Avante. Repeguei num postal meu de há sete anos, minhas memórias de há quarenta anos. Essas do meu desagrado de então com a cumplicidade do meio musical português com o mundo comunista, não só feito de comparências`e associações como também (e muito) de partilha de discursos. Uma velha sensação que me faz olhar, com alguma complacência menorizadora, as críticas actuais a tais participações nos acontecimentos comunistas. Um (muito) "tarde piastes", por assim dizer...

Nesse meu postal recebi um comentário que julgo significativo. Anónimo, claro - e já aqui me repeti bastas vezes sobre a indecência do comentariado argumentativo quando anónimo. Mas este é particularmente denotativo da retórica comunista, essa que quer transformar as críticas sofridas numa "campanha", até cabalística, ou, ainda pior, numa "perseguição". O energúmeno, pois anónimo, diante da minha memória da Festa do Avante e do histórico silêncio dos artistas nela participantes face às ditaduras comunistas, clama que não só isso implica uma "ameaça aos músicos" como, com sarcasmo, propõe que se siga uma perseguição similar aos crentes católicos, aos trabalhadores da Galp e aos activistas da Amnistia Internacional, como exemplos. Diante dessa aleivosia retórica, por um lado tendo a sorrir. Não só por na vida ter pertencido apenas a duas associações: o Sporting Clube de Portugal, do qual fui associado até 1994, e à Amnistia Internacional, até ter emigrado. Mas, e acima de tudo, porque acabo de botar dois postais aludindo ao horror da igreja católica e ao canibalismo lucrativo das grandes retalhistas (GALP obviamente incluída).

Mas, e já sem sorrisos, o que me chama a atenção é a perenidade do gemebundismo vitimizador dos locutores comunistas, que às críticas recebidas sempre respondem com o espantalho da "perseguição" sofrida, nisso convocando o verdadeiro ícone que é o "antifascismo" que praticaram até há meio século, como se os críticos de hoje fossem inclementes verdugos da PIDE, ávidos da ilegalização do "partido". Isto é interessante porque também ontem li um - medíocre - artigo de opinião na Visão, no qual se ecoa um Índice de Liberdade Moral internacional, realizado por uma Fundação para o Progresso da Liberdade. Enfim, não exagero esse resultado, dado que desconheço instituição e instrumento e sua metodologia, assim a sua fiabilidade. Mas, ainda assim, tomo como significativo - mesmo que não absoluto - que nesse índice Portugal surja em primeiro lugar. Ou seja, independentemente da fiabilidade dessa medição, isto é denotativo da situação nacional. Não vivemos num ambiente persecutório - e talvez que o maior agente controlador seja a maldita autocensura que continua a vigorar, a mescla do "respeitinho é muito bonito" com o "cautela e caldos de galinha...".

Ora é neste contexto que os comunistas continuam a apregoar essa tal "nuvem" persecutória. E às críticas que recebem tornam-nas em intentos de perseguição, insistindo na imagem de que vivemos na antecâmara de uma ditadura que os perseguisse (e, já agora, como se não tivessem estado no bloco de poder governativo nas duas últimas legislaturas).

Insisto no que deverá ser óbvio para quem não se deixa tentar por tais patranhas comunistas, não se trata de "perseguir" os músicos (ou outrem). Mas sim de criticar a sua efectiva cumplicidade, velha de décadas, com os militantes de ideologias ditatoriais, seus incansáveis e desavergonhados propagandistas. 

Mas também referir que não se trata apenas de traços ideológicos ou mera desatenção, como se esta típica dos temperamentos artísticos. Pois, e no que toca aos músicos (e restantes artistas) que colaboram ou trabalham na Festa do "Avante", só me ocorre referir o seu contexto. Tenho familiares e amigos íntimos músicos, outros amigos íntimos foram músicos na juventude, tenho amigos e conhecidos empresários, produtores, técnicos de espectáculos musicais, e muitos outros trabalhadores dessa actividade conheci ao longo da vida. Alguns são (ou eram) apolíticos, mesmo, outros muito pouco politizados, outros eram-no de modo "comunitário" (aquilo da "malta é..."). Outros são cientes das suas posições ideológicas. O que se aprende ao longo dos anos, no convívio com esse meio profissional e na mera observação, é que as ligações ao PCP, mesmo que não sendo de militância ou de simpatia, se eram mediadas pela ligação a um imaginário "revolucionário" e, depois, "democrático", eram também trespassadas pelo conúbio com o vasto mercado de iniciativas municipais - e o PCP teve uma enorme influência autárquica e ainda tem alguma. Bem como com o mais abrangente contexto estatal, preenchido no âmbito da "cultura" por agentes ideologicamente ligados a uma nebulosa "Frente Popular". E isso são razões económicas profundas que impediram recusas de associação ao PCP (e suas "festas") ou meros dichotes menos "ortodoxos". Razões essas que muito ultrapassam a mera "solidariedade", "fraternidade" ou "internacionalismo".

Sim, "é a econonia, estúpido", como disse um político capitalista, que muito comanda a cumplicidade e a conivência dos artistas portugueses com os admiradores de Honecker e os fans de Putin. Por mais "a paz, o pão, habitação, saúde, educação" que cantem. E que servem de desculpa para cantarolar que "Todas as tuas explosões, redundam em silêncio".  E é essa já histórica cobardia antidemocrática que dá alento aos miseráveis anónimos comunistas que ainda por aqui andam a dizerem-se perseguidos. Depois de meio século a propagandearem o abjecto humano.

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