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Delito de Opinião

A nova Europa

Cristina Torrão, 21.08.23

No passado dia 6, apresentei aqui as últimas sondagens alemãs, indicando o AfD como segunda força política do país. O AfD é um partido conotado com a extrema-direita, o que, vindo da Alemanha, tem sempre um peso especial.

Tem? Ou tinha?

Na verdade, no que a este blogue diz respeito, os comentadores, em geral, contemporizaram, filosofando sobre o valor das sondagens, os fracassos dos actuais governos europeus e o verdadeiro significado da expressão “extrema-direita”. Fiquei surpreendida. Há uns anos (não muitos), uma sondagem alemã que apontasse um partido destes como segunda força do país provocaria uma torrente de indignações. Falar-se-ia das tendências racistas alemãs, de Hitler, do nazismo e haveria decerto quem se apressasse a distanciar o líder do Chega de tais correntes.

Hoje já não é possível. O referido líder português esteve, há pouco tempo, num congresso do AfD, em Magdeburgo. O que não deixa de ser estranho, tendo em conta a aversão que os nossos “cheguistas”, na afirmação da sua lusitanidade, têm em relação aos europeus loiros e de olhos azuis. A verdade é que o nosso “chefe” debitou (em inglês) uns lugares-comuns sobre a construção de mesquitas em solo europeu e foi muito aplaudido. Ou, pelo menos, assim parece, num vídeo publicado no canal do seu partido no YouTube.

Para quem torne a duvidar do carácter extremista do AfD, não é segredo nenhum, na Alemanha, que o partido conta, nas suas fileiras, com elementos do antigo NPD, esse, sim, assumidamente nazi. E, de vez em quando, surgem exemplos, indicando as suas verdadeiras tendências. O seu líder revelou, recentemente, os planos que tem no caso de chegar ao poder na região de Turíngia e, para a educação, deu a entender que irá determinar que as crianças com deficiência seriam proibidas de frequentar as escolas do ensino regular. Gerou uma onda de protestos dos outros partidos. Este é um tema muito sensível, na Alemanha, pois, como se sabe, o regime nazi era muito discriminatório, nesta questão, chegando a aplicar a eutanásia em pessoas com deficiência.

O chefe do AfD em Hamburgo causou igualmente perplexidade, numa entrevista de Verão, ao defender a construção de uma qualquer barreira à volta de um centro de apoio a viciados em droga, a fim de os esconder dos turistas. Esse centro situa-se perto da Estação Central de Hamburgo e, na sua opinião, os visitantes da cidade têm o direito de não serem incomodados com a visão da “miséria” (já agora, digo eu, escondam-se igualmente os pobres e os pedintes). Estas declarações chocaram ainda mais, pois havia a ilusão de que os representantes do partido, em Hamburgo, teriam princípios mais democráticos do que os seus colegas do Leste.

Também o aumento do anti-semitismo, neste país, é motivo de preocupação. A extrema-direita, incluindo a alemã, é cada vez mais aceite e ganha adeptos. Os partidos dos vários países unem-se. Mesmo o nosso representante, como vimos, já é “tu cá, tu lá” com a versão branqueada dos nazis. E, se os partidos crescem, nada mais nos resta do que aceitar a escolha popular.

Que seja! Pergunto-me, sobretudo, se esse camaradismo a nível europeu continuaria, caso os partidos chegassem ao poder. Não me custa imaginar uma guerra entre a Alemanha e a França, pela liderança da “nova Europa” (sim, que a Le Pen tem pêlo na venta e não se deixava ficar). E, se o VOX chegasse a um qualquer acordo com o vencedor da disputa, Portugal seria, finalmente, uma província espanhola. O nosso “chefe” com muito gosto se subjugaria, em nome de uma qualquer segurança, ou de uma sociedade limpa de misérias e de teorias inclusivistas.

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