A noite em que todos perderam
Com excepção da CDU e de Marinho Pinto, todos perderam. O PS obtém uma vitória curta, face às expectativas de congregar o voto de protesto contra a coligação PSD/CDS. A Direita sofre uma derrota histórica, que poderá abalar os alicerces do Governo (vem a caminho uma remodelação ministerial?). O Bloco continua a via da implosão. Perdeu as causas fracturantes para o PS e ao rejeitar ser hipotético parceiro dos socialistas tornou-se politicamente irrelevante. A abstenção atingiu valores elevadíssimos, resultado de um crescente (e preocupante) desânimo popular com a política (e com a Europa!) e do desgaste dos partidos tradicionais. O Governo sai fragilizado, mas a oposição não recolheu combustível suficiente para apelar de forma convincente a eleições antecipadas. A “força da rua” mostra-se nos “media” e nas redes sociais, mas o país real parece sobretudo amorfo e indiferente.
A CDU obtém um resultado notável, mas o seu discurso ideológico continua demasiado radicalizado para poder figurar como eventual parceiro de governação para o PS (e o facto de os comunistas terem feito campanha agressivamente contra os socialistas só adensou o abismo entre ambos). Marinho Pinto consegue a proeza de ser eleito para o Parlamento Europeu sem que se lhe conheça uma ideia sobre a Europa. Os eurocépticos ainda são irrelevantes em Portugal, mas o poder mediático do populismo já se faz sentir.
[publicado ontem no Diário Económico].
P.S. A euforia de Seguro e Assis não passou de uma encenação para tentar vender a imagem de uma Direcção ganhadora. Correspondeu na verdade a um autêntico "canto do cisne". A vitória foi curta (como qualquer pessoa notou desde logo). Segue-se pois uma guerra civil no PS...