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Delito de Opinião

A Mulher

Pedro Correia, 08.03.22

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Elena Ossipova tem 80 anos. Nasceu em Leninegrado quando a segunda maior cidade russa se encontrava cercada por forças da Alemanha nazi durante a II Guerra Mundial. Conhece desde o berço a violência dos conflitos bélicos.

Chocada com a agressão do seu próprio país à Ucrânia, esta pintora e activista decidiu ostentar dois rudimentares cartazes de protesto - um a favor da paz, outro contra a utilização de armas nucleares. Onde se liam frases como estas, escritas em russo: «Filho, não vás para esta guerra! Soldado! Larga as armas e torna-te um verdadeiro herói! Não dispares!»

Discurso interdito na Rússia totalitária de Vladimir Putin onde a palavra guerra está banida do léxico público e uma mãe que chore um filho soldado morto na Ucrânia arrisca pesada pena de prisão por traição à pátria. 

Mesmo assim Elena saiu à rua, em Sampetersburgo. Exibindo as mensagens que redigiu naqueles cartazes considerados subversivos pelos esbirros do ditador. Fisicamente alquebrada mas com notável desassombro cívico - equivalente ao dos sete mil cientistas e académicos russos que se atreveram a escrever uma corajosa carta aberta ao déspota do Kremlin, pedindo-lhe que ponha fim à guerra. É quanto basta para poderem penar nos calabouços.

Durou poucos minutos, o protesto de Elena na passada quarta-feira. Oito polícias antidistúrbios, munidos de capacetes e coletes antibalas, não tardaram a comparecer no local, detiveram-na e transportaram-na para local incerto. Tal como já aconteceu a mais de dez mil pessoas indiciadas desde 24 de Fevereiro em várias cidades russas por delito de opinião. Ninguém escapa à senha persecutória dos lacaios fardados. Que também já detiveram crianças pelo «crime» de pretenderem pôr flores à porta da embaixada ucraniana em Moscovo.

Esta senhora com idade para ser avó daqueles que a prenderam deu ao mundo uma inequívoca lição de dignidade moral. Mostrando ter enorme robustez interior apesar da aparência frágil. Confirmando que é imperioso não confundir Putin com o povo russo, que sofre hoje quase tanto como os vizinhos ucranianos.

Não concebo imagem com maior força simbólica neste Dia Internacional da Mulher.

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