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Delito de Opinião

A morte do jornalista moçambicano Mano Shottas

jpt, 14.12.24

Mano Shottas foi até agora um jovem moçambicano. Apresentando-se despojado dos habituais símbolos das malvadas utopias, sem cruzes ou crescentes, estrelas ou barbudos, metralhadoras ou alfaias - surge sim, no seu mural feito canal comunicacional, vestido com uma camisola do Barcelona, o de Messi. Não viveu a velha Paris, as estepes em guerra, não calcorreou o mundo. Encontro-o em Ressano Garcia mas até duvido que conhecesse Nelspruit...
 
Assim sendo, pois desprovido de embrulho épico ou cosmopolita, de ares "intelectuais", nunca será considerado, venerado, como um repórter bravo e bravio, como um Capa ou um Reed, apesar de ter mais ou menos a idade deles quando avançaram para as guerras que os celebrizaram. Ou mesmo - mais contemporâneo e "africanista" - desse Kapuscinski, o propagandista de Agostinho Neto. Por isso muito duvido que lhe venham a dedicar versalhadas de pé-quebrado, ditas "de resistência". Nem as mesuras da amnésia, sempre doadas àqueles Prémios Camões africanos que tantas loas teceram, no adequado in illo tempore, aos fuzilamentos e campos de concentração ditos revolucionários.
 
Pois Mano Shottas não foi até agora um "jornalista", de carteira profissional. Mas sim um tipo das "redes sociais", "sem filtros" e "editores", um mero "jovem". Alguns até o dirão um "vândalo"...
 
O filme é brutal, repito!!! Mano Shottas está em Ressano Garcia, a fronteira com a África do Sul. Está a fazer uma "live" - o jornalismo de cidadania, que tantos refutam e querem calar. Está a transmitir em directo a repressão policial (? - dizem-me que hoje soldados ruandeses estiveram ali em acção, mas não posso afiançar). A pequena vila está a ferro e fogo. Shottas, jovem bravo e bravio, filma e descreve. A repressão sobre o seu povo. É atingido, cai. Continua a emitir: "fui alvejado, pessoal... estou a morrer, pessoal". E morreu!
 
Nós aqui? Calados. E lá? Os instalados, escribas e outros, na ladainha da invocação de um passado que dizem glorioso - o dos campos de concentração, note-se, o do largar carregamentos de gente no mato, para serem "pasto de leão", lembre-se a miserável "glória" dos "tempos" da "mamã" e dos "papás"! E a prometerem "emendar-se"... depois de décadas tétricas.
 
Um homem vê o jovem Shottas a balbuciar, agonizando. E não pode deixar de clamar, cá de longe, e mesmo sendo estrangeiro: Anamalala! Basta! Acabou!

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