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Delito de Opinião

A Morte da Livraria Barata

jpt, 05.08.23

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Eu lembro-me da antiga Barata - tende calma, eu não sou do tempo dos livros (semi)proibidos "debaixo do balcão" que alguns lá iam buscar, pois velho sim mas nem tanto... E lembro-me do gentil mas sempre algo soturno Senhor Barata por lá. E também da comoção que sobreveio na sua infausta morte. E mais me lembro, já bem adulto, do "frisson" lisboeta quando a Barata se renovou, ainda com o dono presente, o ar de modernidade que trouxe, livraria espaçosa, elegante, fresca, com calçada portuguesa interna (um arrojo, na época), as estantes duplas preenchidas de bons e recentes livros - e não mero depósito semi-alfarrabista. Lembro-me das horas passadas lá, em era de bons ordenados. Lembro-me ainda mais de vir de Maputo a férias, essas que não eram "a banhos" mas sim "a livros", e de no dia seguinte à chegada já lá estarmos - até porque não havia só bons livros mas também bons livreiros, empregados que sabiam da poda e eram gentis. E da secção de discos (CDs, então) que foi crescendo em importância - a "Lisboa" sazonal era-nos família, amigos, uma ou outra refeição mais pitoresca, a roupa para a miúda sempre medrando. E livros, na Barata.

Nos últimos anos deixei de lá ir. Pois casa apinhada de livros por ler, bolsa leve, ânimo desvanecido, tudo isso... Pouco dela soube, talvez apenas que o bom do António Cabrita viera de Maputo para lá ser empurrado por um poeta mais aguerrido (mas talvez menos poeta), em estardalhaço literário que já não é dos nossos tempos... No Verão passado passado passei por lá e condoeu-me o "estado da arte", poucos livros, escassas revistas, umas montras preguiçosas a embrulharem a amostragem das parafernálias "digitais" ali já espalhadas. Deprimi-me, senti-me tão velho como sou, fugi - e botei sobre isso.

Leio agora que a Barata acabou - a loja chinesa que ali se instala informa que continuará a respeitar o património etc e tal. Venderá as suas quinquilharias durante algum tempo, alguns anos talvez. Depois virá outro retalhista de um qualquer pechisbeque. Não condeno. Mas lamento imenso.

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