A minha preferência: o Nobel para Atwood

Dizem-me que o Nobel da Literatura adoptou na última década "quotas de género": passou a premiar, alternadamente, escritores de ambos os sexos. Não sei se já vigoram também quotas étnicas - como nos Óscares de Hollywood - ou geográficas. Pouco me surpreenderia se assim fosse.
Quero lá saber. Como leitor, escolheria sem hesitar Margaret Atwood - autora de extraordinários romances, como Ressurgir ou O Assassino Cego. O primeiro, incluído por Harold Bloom no seu imprescindível Cânone Ocidental; o segundo justamente galardoado com o Pulitzer de 2000.
No ano passado o Nobel coube à coreana Han Kang: isto indicia que desta vez o galardoado será do sexo masculino, segundo determina a severa lei das quotas. Mas laurear duas mulheres em anos consecutivos seria verdadeira inovação: nunca o mais cobiçado prémio das letras mundiais se atreveu a tanto.
Deixo, portanto, a minha preferência - repetindo um voto já aqui feito em 2019: o Nobel para Atwood, que nesse ano recebeu o Booker, em jeito de compensação. Falecidos Rubem Fonseca, John Le Carré, Javier Marías e Milan Kundera, que também o mereciam, seria hoje um dos mais justos.
Preferência, não prognóstico. Porque Atwood estará excluída, in limine, por ousar dizer aquilo que realmente pensa. Contra os torquemadas do momento e as novas censuras. Tal como Salman Rushdie, neste caso por veto explícito do islamismo radical perante a cobarde complacência dos profissionais da indignação selectiva.
Pouco importa. Tanto a escritora canadiana como o romancista anglo-americano nascido na Índia já receberam o melhor dos prémios: a admiração e o respeito de milhões de leitores. De todos os cantos do planeta, sem anátemas nem exclusões.
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